Você sabe o que é "compulsão repetitiva"?
- Ricardo Lobo

- 7 de out. de 2021
- 5 min de leitura
Talvez você já tenha escutado a história de que a mulher que teve uma relação conturbada com seu pai na infância, uma relação emocionalmente complicada, sentindo algum tipo de falta, seja de carinho, presença, compreensão, ou o que você bem imaginar, acabe atraindo para se relacionar, mesmo que não seja a sua vontade aparente, parceiros que a façam reviver exatamente os mesmos tipos de dores, traumas e sentimentos, parceiros também emocionalmente complicados, da mesma forma que enxergava seu pai. Já ouviu algo mais ou menos nesse sentido?
A mesma lógica, para não falar apenas de um gênero, se aplica aos homens que tiveram uma relação conflituosa com suas mães. Por mais que eles, da boca para fora, no discurso, busquem parceiras que supram suas carências, acabam atraindo justamente o oposto, companheiras que os façam reviver exatamente as mesmas dores e angústias do passado.
É claro que isso não é uma regra, jamais podemos generalizar, até porque cada pessoa é única e exclusiva nesse mundo. É, no entanto, muito mais comum do que você imagina. Pode ser que você se veja no exemplos acima, pode ser que não, mas a pergunta que fica, e eu sei que você deve estar curioso(a) quanto a isso, é: você sabe ou desconfia por que esse tipo de situação acontece? Se a resposta é não, continue lendo, porque agora irei explicar não apenas o motivo, mas dar uma importante dica, daquelas de ouro, preciosas, para você melhorar muito a qualidade dos seus relacionamentos e da sua vida de uma forma geral.
Antes de mais nada, você precisa entender que somos seres de base dividida, o que significa dizer que temos um lado consciente, plenamente acessível, e um lado inconsciente, que faz agirmos sem muitas vezes entender exatamente o que está nos motivando a seguir determinado caminho. O nosso inconsciente é amplo, tem um sistema de radar bem afinado, e é inacessível à mente consciente. Por isso, nos exemplos acima, não é que homens e mulheres que tiveram relações delicadas com seus pais desejem se machucar novamente, mas sim dominar uma situação na qual se sentiram impotentes quando crianças. Vamos lá, vou explicar de uma forma ainda mais simples e didática.
Isto acontece por estarem "presos" ao passado, "presos" à criança ferida, aquela criança que não suportava algo, achava ruim, nutria sentimentos negativos, mas não tinha o poder, a autonomia e a força necessárias para mudar a situação. Ainda assim, por mais clichê que possa parecer, não temos como alterar o passado (e nunca custa repetir isso, por mais básico que seja). Se o seu pai ou a sua mãe foram pessoas que não forneceram o amor da forma como você desejava, foram mais ausentes, agiram de maneira arbitrária e/ou agressiva, e você considera que falharam em algum ponto por conta de suas atitudes, infelizmente (ou será que felizmente!?) você não consegue mais mudar nada disso. Você precisa aceitar a sua realidade, da forma como foi, por mais cruel que tenha sido, e se desprender dos sentimentos negativos que vivenciou na infância.
Todo o sentimento que fica reprimido, de uma forma ou de outra, se volta contra nós mesmos. Freud disse em certo momento: "As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem das piores formas mais tarde".
A mulher, por exemplo, sente raiva pela ausência do pai em sua vida, e, ao guardar esse sentimento para si, reprimindo-o, atrai um parceiro que a faça reviver justamente todos os mesmos traumas. O discurso que acontece em sua mente, mesmo que não perceba, ou quem sabe não admita, é mais ou menos como: Talvez desta vez, o inconsciente imagina, eu possa voltar e curar aquela ferida de tempos atrás, envolvendo-me com alguém familiar, mas novo. É como se acabasse buscando de forma inconsciente uma versão mais nova do próprio pai. Só que o que precisa ficar muito claro, mais uma vez, é que jamais conseguimos voltar no passado para modificá-lo. O resultado dessa tentativa será sempre trágico, as feridas serão reabertas, e a pessoa se sentirá ainda mais inadequada e indigna de amor.
Freud chamou isso tudo que estamos falando de "compulsão repetitiva", algo gerado de forma totalmente inconsciente. E por mais que eu tenha contextualizado utilizando exemplos de infância, é um mecanismo que se aplica para qualquer fase da vida. Imagine que você tenha sido traído(a) de alguma forma em um relacionamento mais recente. Isso com certeza não é algo fácil de enfrentar, causa dor, gera tristeza, inicialmente pode quem sabe deixá-lo(a) com raiva, magoado(a). No entanto, se você não se desprender desses sentimentos e daquilo que já faz parte do passado, é provável que atraia parceiras(os) que façam você reviver os mesmos tipos de angústias. É um mecanismo inconsciente, involuntário. Você não deseja, mas acontece.
Por isso, a primeira dúvida que fica é se você realmente está disposto a melhorar a qualidade dos seus relacionamentos e do seu próprio bem-estar de um modo geral? Se você não tiver vontade, nada feito, pois o primeiro passo para solucionar algo é querer, e querer muito, estar comprometido com a mudança. Todavia, se você realmente quer e tem a disposição para assumir esse compromisso com a sua própria evolução, tudo o que você precisa fazer é começar a falar dos seus sentimentos, a fim de desconectar-se do passado, ressignificá-lo. Mas calma, quando eu digo "falar dos seus sentimentos" não estou orientando que você saia por aí contando a sua vida para todo mundo ou expondo toda a sua angústia e a sua vulnerabilidade nas redes sociais. Isso é desabafo. O desabafo pode surtir um efeito positivo de curtíssimo prazo, até tem a sua importância, mas jamais garante um resultado a longo prazo, que é o que realmente importa.
O que garante um resultado a longo prazo é a escuta qualificada, e isso você obtém através do processo terapêutico, onde você consegue conhecer a si, modificar seus padrões de comportamento e ampliar o seu nível de consciência sobre suas escolhas.
No exemplo dito um pouco acima, da mulher que sente raiva pelo pai ter sido ausente, é preciso solucionar isso, fazendo uma catarse, ou seja, liberando aqueles sentimentos reprimidos, ressignificando a relação pai e filha. Ressignificar o passado, aceitando-o, modificando o presente, a fim de construir um futuro mais digno e mais dentro do esperado. Ao fazer isso, que é feito através de um processo, consequentemente o casamento/namoro melhorará, ou, caso você não esteja atualmente em um relacionamento, passará a atrair outro tipo de pessoa, e não alguém que a faça reviver antigos traumas.
Você entendeu aqui, de uma forma simples, o que é "compulsão à repetição". Caso tenha alguma dúvida adicional, não deixe de falar comigo em particular, será um prazer ajudar (na parte superior aqui do site tem o link para contato comigo). E lembre-se sempre: conhecimento não aplicado é inútil, não serve para nada. Então, agora, é você quem decide o que fazer com o que acabou de aprender. Eu estou por aqui para ajudar, mas só consigo ajudar quem realmente quer e deseja ser ajudado.





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