O medo do compromisso cria uma geração de Peter Pans
- Ricardo Lobo

- 11 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
É fato que hoje em dia, de acordo com as estatísticas mais recentes, os filhos saem cada vez mais tarde da casa dos pais. O que antigamente ocorria comumente aos 20, 25 anos, hoje acontece aos 35, 40, e olhe lá.
Embora não se possa generalizar, apontando um único motivo para tal acontecimento, alguma causa que valha de forma universal, a verdade é que muito disso se explica pelo fato de hoje vivermos o que costumo chamar de ‘utopia do prazer’.
O prazer sempre existiu, e sempre irá existir, sempre nas circunstâncias do seu próprio espaço temporal. Nunca, entretanto, foi tão fácil, como nos tempos atuais, termos acesso a esse prazer.
Atualmente, diferente do passado, escolhemos filmes e séries sem sequer levantar a bunda do sofá, apenas com o controle remoto, ou até por comando de voz, de forma ainda mais fácil. Não precisamos ir ao mercado para fazer as compras, pois o serviço está disponível por diversos aplicativos, em nosso próprio celular. Conhecer alguém? Esqueça a ideia “envelhecida” de tomar banho, se arrumar, ir a um bar e ter que se esforçar, “gastar a lábia”, como dizem os mais velhos. Hoje em dia, sem nem sair de casa, por diversos aplicativos, é possível conhecer e se relacionar com pessoas de todas as partes do mundo, mesmo que, inicialmente, de forma 100% virtual.
Claro que o avanço tecnológico faz parte de um processo de desenvolvimento, vem para agregar em nossas vidas, facilitando uma série de tarefas e processos. Porém, como em tudo na vida, nem sempre há apenas o lado positivo, logo temos que ressaltar também o aspecto negativo, principalmente no que diz respeito a nossos aspectos emocionais. E, quando pensamos por essa ótica, vemos que, a cada nova geração, se desaprende, cada vez mais, a lidar com a frustração.
É preciso ter um “relacionamento perfeito”, um “trabalho que se ame”, “amigos que me valorizem”, e daí por diante. Essas são ideias instaladas desde cedo em nossa mente, em nosso “HD”, até por conta do que ouvimos de familiares e da própria sociedade. Não existe mais espaço para a frustração. É preciso “SER FELIZ” a qualquer custo. Na primeira decepção, troca-se de relacionamento, de trabalho, de círculo social, de projeto, de objetivo e etc.
Cria-se uma expectativa por um ideal onde a felicidade só é atingida quando a vida nos poupa de tudo aquilo que é ruim. Essa, contudo, logicamente que não é a realidade, não condiz com a vida verdadeira. Pensar assim causa, pasme, o efeito oposto, uma vez que gera, na prática, mais e mais frustração.
É preciso aprender a lidar com as dores, com as perdas, com as frustrações, com os fracassos. São eles que, se estivermos abertos a isso, nos fazem evoluir, progredir, amadurecer.
Assumir compromissos, de qualquer natureza, seja um relacionamento íntimo, a missão de ser aprovado em alguma prova, emagrecer, ou então empreender, é, antes de mais nada, compreender que os desafios, as divergências e as adversidades farão parte de qualquer trilha, e são naturais. (É sobre isso, e tá tudo bem!). Cabe aos envolvidos humildade para reconhecer os obstáculos, e serenidade e comprometimento para buscar evoluir com eles.
Existe casamento perfeito, sem nenhum tipo de divergência? Existe trabalho perfeito, onde trabalhar é sempre divertido? Existe perfeição de estudo, com o mesmo ânimo e a mesma motivação todos os dias?
Não passe a vida buscando por uma perfeição que não existe, embora isso seja colocado cada vez mais como algo atingível, até pelo fato do prazer estar cada vez mais acessível. Se você não assumir compromissos, ficar com a “mentalidade do macaco”, pulando de galho em galho, objetivando sempre o 'cenário ideal', agindo exatamente como tudo o que acabou de ser descrito aqui, se tornará mais um Peter Pan, assim como muitos que hoje habitam em nosso meio, muitos que, infelizmente, apesar do avanço numérico da idade, insistem em não amadurecer.





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