O Valor Inestimável da Presença Paterna
- Ricardo Lobo

- 24 de set.
- 3 min de leitura
Os números falam por si e carregam uma dor que dispensa adjetivos. Em 2023, aproximadamente 170 mil crianças foram registradas sem o nome do pai em cartórios brasileiros. Mais contundente, porém, é a realidade de mais de 11 milhões de mulheres que, de acordo com estatísticas recentes, criam seus filhos inteiramente sozinhas, privadas de qualquer amparo financeiro ou emocional por parte do genitor. Sim, do genitor — pois é impróprio atribuir o título de “pai” a quem apenas gera uma vida, mas se exime do dever de nutrir, educar e acompanhar. Não são homens, mas meninos. Não são pais, mas ausências.
Como homem e pai de um menino de cinco anos, essas estatísticas me atravessam com um peso difícil de descrever. Dói-me profundamente saber que milhões de mulheres suportam sozinhas uma missão tão árdua, enfrentando exaustão física e esgotamento emocional, dia após dia. A maternidade solitária, muitas vezes, é marcada por angústia silenciosa, noites de vigília e um cansaço que não se dissipa.
Ser pai ou mãe é uma bênção que escapa a qualquer medida. É um amor sem equivalentes, infinito, que só quem o vive compreende em sua totalidade. Nenhum projeto humano se compara à sublime tarefa de gerar e formar uma vida. Contudo, se deixarmos de lado o encanto quase poético dessa experiência, a realidade impõe-se com crueza: criar e educar uma criança exige esforço constante, abdicação e resiliência. Escola, consultas médicas, lazer, atividades extracurriculares, passeios — cada compromisso demanda tempo, entrega e dedicação. Filhos não têm botão de pausa. A parentalidade é uma vigília perene, um chamado que não admite intervalos.
Diante dessa verdade, resta-me cultivar empatia e assumir minha própria responsabilidade. O que posso fazer é contribuir, com a minha presença e meu compromisso, para que a paternidade ativa se torne a regra e não a exceção. E é justamente sobre essa exceção que desejo refletir.
Às mulheres que, felizmente, contam com parceiros ou ex-parceiros que são pais de fato — que participam, que se fazem presentes mais da metade do tempo — peço que os valorizem. É provável que, ao ler estas linhas, algumas mulheres reajam com certo rancor: “Mas isso não é mais do que obrigação.” Concordo, em parte. Deveria ser, sim, um dever natural e inquestionável. Entretanto, a frieza dos números revela que, no Brasil, a realidade está muito distante do ideal.
Por isso, mulheres que têm ao lado um homem comprometido com a criação dos filhos, não permitam que essa presença se perca. Não utilizem a criança como moeda de troca, nem como instrumento de punição. Não carreguem, sozinhas, o peso que pode — e deve — ser compartilhado. Se fosse possível perguntar às mais de 11 milhões de mães solo do país, é quase certo que a esmagadora maioria, talvez 90% ou mais, confessaria, com emoção, o desejo profundo de dividir a vida dos filhos com um pai verdadeiro. A ausência paterna traz não apenas fadiga, mas uma tristeza que marca, sobretudo, o coração da criança.
Um relacionamento pode terminar; o vínculo de um pai com o filho, jamais. Que os adultos tenham a maturidade de não transferir aos pequenos as consequências de conflitos conjugais. Quantas vezes só aprendemos a valorizar o que perdemos quando já é tarde demais. Que cada mãe, portanto, reconheça e preserve o valor do pai de seus filhos.
Que, ano após ano, mais homens compreendam a grandeza e a responsabilidade de serem pais em plenitude. E que, paralelamente, cada mulher que tem ao seu lado um pai presente saiba enxergar que, ao restringir injustamente essa convivência, não apenas se condena a uma rotina mais árdua, como fere, sobretudo, o desenvolvimento e a saúde emocional da própria criança. A presença paterna não é um detalhe; é um alicerce.





Comentários