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Você não está condenado(a) à prisão perpétua!

Eu sei que falar sobre pena de morte é um assunto bastante delicado, um tema que exige bastante cautela e cuidado. Por mais que eu nunca tenha passado e sentido alguma dor semelhante a de quem já perdeu algum ente querido ou alguma pessoa próxima, que tenha sido vítima de algum tipo de violência e/ou abuso, consigo tentar me colocar no lugar, de forma empática, imaginar o sofrimento, e entender o pensamento de quem considere que o(a) criminoso(a) deva pagar com a própria vida.


No entanto, por mais que eu entenda, por mais que eu busque me colocar no lugar, me permito discordar e ter uma opinião diferente, e vou explicar o porquê. A pena de morte, no meu entendimento, seria algo totalmente impulsivo, algo que não eliminaria o sofrimento anterior. O que eu quero dizer com isso é que a morte da pessoa que causou o mal não trará de volta à vida a pessoa que partiu. São situações que não se interligam e nem se correlacionam do ponto de vista emocional.


Muitas vezes, a pessoa quer ver o(a) criminoso(a) morto, mas não percebe que nada, nem mesmo a morte desta pessoa, a fará apagar a história e o que realmente aconteceu. É por isso, de uma forma resumida, é claro, sem entrar em maiores debates, até porque nem é esse o objetivo, que sou favorável não à pena de morte, mas sim à prisão perpétua. Pelo simples fato de que não há sofrimento maior, na minha opinião, do que ser privado da própria liberdade. Mel Gibson, no filme Coração Valente, eternizou a frase: "Eles podem tirar nossas vidas, mas nunca poderão tirar nossa liberdade". Por aí você já percebe o valor da liberdade.


Imagine passar o resto de sua vida em uma sala de 4 metros quadrados, sem conhecer novas pessoas, sem ir à praia, sem poder viajar, sem poder frequentar espaços públicos e etc...isso é muito mais sofrimento, dói mais, do que a perda da vida. A vida ganha cor e sentido com a nossa liberdade, e a prova é, tenho certeza disso, que uma das coisas que você mais se viu, e ainda se vê, angustiado(a) ao longo da pandemia, é o fato de ter perdido uma parcela considerável de sua liberdade de ir e vir. É ou não é?


Falar de prisão perpétua, no Brasil, porém, ainda é algo distante. Veja o caso de Suzane Von Richtofen, por exemplo. Ela matou os próprios pais, foi condenada a menos de 40 anos de reclusão, e, de acordo com as brechas da lei, contando com o serviço de 'bons advogados', conseguiu progredir para um regime semiaberto, conseguiu se tornar aluna de uma faculdade, consegue frequentar a igreja. O seu namorado da época, Daniel Cravinhos, condenado aos mesmos 40 anos, hoje cumpre a sua pena em liberdade, vivendo uma vida totalmente dentro da normalidade, tal como a minha e a sua.


Imagine caso ambos tivessem que passar o resto de suas vidas na cadeia, sem nem um pingo dessa liberdade? Ficar preso dia após dia, da idade atual, em que ainda são novos, com menos de 40 anos, até a velhice, até as suas mortes, seja pela causa que for. Prisão perpétua, da mesma forma que vemos nos filmes de Hollywood. Isso não seria um sofrimento muito maior do que simplesmente tirar a vida deles?


Eu respeito a sua opinião caso discorde, e eu não estou aqui com o objetivo de entrar em algum debate jurídico ou social para chegar a conclusão daquilo que é melhor ou pior, certo ou errado. Eu apenas contextualizei dessa forma por um simples motivo: você não é a Suzane Von Richtofen, e muito menos o Daniel Cravinhos. É isso mesmo, você não é nenhum deles!


Você é uma pessoa livre, 100% livre, mas que talvez, sem nem perceber, está vivendo uma vida preso(a), como se estivesse condenado(a) à prisão perpétua. Sabe o que isso que eu estou falando significa? Concentre a sua atenção, de verdade, nos parágrafos a seguir.


Muitas coisas em nossas vidas não foram da forma como gostaríamos que fossem, isso é um fato que vale para mim, para você e para qualquer outra pessoa. Talvez gostaríamos de ter tido pais mais abertos ao diálogo, mais compreensivos e flexíveis. Talvez tivéssemos o desejo que nossos pais fossem mais presentes, e que se permitissem ter momentos de lazer em família com mais frequência. Talvez gostaríamos de ter recebido mais apoio e incentivo para nossos projetos. São apenas alguns exemplos. Com certeza você tem seus próprios exemplos, o que é certo é que algo da sua infância/adolescência não foi da forma como você imaginava ou gostaria.


No entanto, foi do jeito que foi, e agora não há como mudar. Não adianta ficar idealizando, se culpando ou se ressentindo por uma realidade que já é posta. É algo que não está mais ao seu alcance, você não tem o menor controle. Seus pais, meus pais, todos foram da forma como acreditavam, e mais ainda, da forma que podiam ser naquelas circunstâncias. Você, no entanto, não é obrigado(a) a perpetuar e repetir os padrões do seu passado. Você não precisa, nas suas relações atuais, fazer exatamente o mesmo que o(a) feriu em sua infância.


Se você sentiu falta do diálogo com seus pais, agora você pode ser uma pessoa mais flexível e empática com seus filhos, com seus amigos, e com sua nova família. Se você sentiu falta de viver momentos alegres em família, com mais tempo de qualidade com seus pais, agora você pode criar uma rotina de lazer e diversão com seus amigos, pode se permitir descansar, com seus filhos e sua nova família. Se você acha que não recebeu apoio e incentivo para os seus projetos, agora você pode demonstrar esse apoio para seus filhos, para sua esposa, para o seu marido, para os seus amigos e para as pessoas com quem convive...você pode fazer diferente!


Você não está condenado(a) à prisão perpétua, você é livre. Isso tudo acontece, em muitos momentos, a nível inconsciente, sem que você se dê conta ou perceba, como falei anteriormente, porque você está preso(a) à sua criança ferida, aquela pessoa que hoje é adulta, mas que ainda está emocionalmente presa ao passado, idealizando algo que já não há mais como mudar, torcendo por uma realidade que não existe, e, carregando a partir disso, diversos traumas e sentimentos negativos.


Se você não curar essa criança ferida, você tende a repetir nos seus relacionamentos atuais justamente aquilo que você se queixa do seu passado. Por isso, é seu dever aceitar o passado da forma como foi, e aceitar as pessoas da forma como elas escolheram ser, abrindo mão do controle, fazendo uma catarse dos sentimentos negativos. É seu dever parar de ficar idealizando e tentando controlar o incontrolável. Como um dia disse Viktor Frankl: "Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida".


Você não está condenado(a) à prisão perpétua, ressignifique e dê um novo sentido ao seu passado, aceitando a sua realidade, e lembre-se que você é livre para escrever o seu futuro da forma como acha que deve escrever, sem a necessidade de repetir tudo aquilo que não aprova e em algum momento já lhe causou dor e sofrimento. O papel e a caneta estão em suas mãos, agora cabe a você entender, fazer terapia para se alfabetizar emocionalmente, e roteirizar sua própria história, da forma como você realmente quer.

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