Quem apanha nunca esquece?!
- Ricardo Lobo

- 7 de dez. de 2021
- 6 min de leitura
Dias atrás fiz uma enquete em meu Instagram questionando às pessoas que me acompanham naquela rede social se, quando alguém as ofendia, causava algum mal, agia de forma desonesta, ou prejudicava de alguma forma, seja leve ou gravemente, elas 'tocavam a vida adiante' com facilidade, ou então, sentiam dificuldade, pois, 'quem apanha nunca esquece'?
Foram quase 1300 votos, sendo que praticamente 900 pessoas votaram na opção em que 'quem apanha nunca esquece'. O número, quase 60% dos votos, me impressionou, ao mesmo tempo em que preocupou bastante. Por isso, como já havia prometido por lá, resolvi ampliar o debate e a discussão do assunto por aqui.
A grande verdade, em primeiro lugar, é que não nos relacionamos com pessoas, mas sim com as imagens das pessoas que criamos em nossas mentes. Acreditamos conhecer nossos parceiros e parceiras, nossos amigos e amigos, nossos colegas de trabalho, vizinhos e etc. No entanto, temos deles uma imagem em nossa mente, baseada no momento atual, no 'hoje'. Qual é o problema disso? A vida não é apenas o 'momento atual', existe o 'amanhã', e, no 'amanhã', as pessoas mudam.
É um conceito e uma regra que não se aplica apenas aos outros, mas também a nós mesmos. Não somos estáticos, fixos, muito pelo contrário, somos seres em constante mutação. Com certeza, muitas pessoas do seu passado conhecem uma versão sua que não existe mais, não é mesmo? Sua mudança foi para melhor ou para pior? Por mais que você acredite, provavelmente, ter sido para melhor, a resposta é: depende! Depende do ângulo de quem está vendo. Ver o Cristo Redentor do Rio de Janeiro pela Internet ou pessoalmente são duas experiências totalmente distintas.
Na mente de algumas pessoas, foi para pior. Por exemplo, se há cinco anos você era uma pessoa que vivia saindo para festas, baladas, enchendo a cara, vivendo quase como um bon vivant, sem assumir compromissos sérios, e hoje é uma pessoa com olhar direcionado para a família, mantendo uma rotina saudável, centrada em questões realmente sérias, no sentido social, preocupada com o seu crescimento profissional, com novos hábitos e comportamentos, em substituição aos antigos, talvez, na mente de quem ainda mantém aqueles comportamentos de antigamente, você "mudou para pior". Por outro lado, na cabeça de pessoas que talvez já fizessem há meia década o que você passou a fazer agora, "mudou para muito melhor". E, nesse caso, talvez ainda acrescentem a frase "finalmente, achei que não ia tomar jeito nunca".
Por isso, o primeiro passo é realmente entender que não conhecemos as pessoas, da forma como imaginamos, por mais íntimos que sejamos delas, por mais próximo que seja o convívio. Conhecemos a imagem das pessoas que está em nossas mentes. Vale tanto para nosso marido, nossa esposa, como para o vizinho ou a vizinha de bairro. Uma imagem que muda a todo instante, tanto a nossa como a dos outros. Não há como controlar ou brigar com isso. É assim. Imagine um casamento, por exemplo. Será que dois jovens que se unem com 20 anos serão exatamente as mesmas pessoas com 40 anos? É bastante improvável. Ocorrerão mudanças, surgirão novas imagens, de novos ângulos. Todos nós estamos em constante mudança.
Dessa forma, você já começa a entender que não temos como impedir a mudança das pessoas, muito menos como prever. O que podemos, e devemos, é definir a nossa postura e os nossos limites perante as posturas e atitudes dos outros. Sendo assim, abrindo mão dessa tentativa de controlar o incontrolável, entendendo que conhecemos a imagem, e não a pessoa, compreendendo realmente como isso funciona, aceitamos, pelo menos de forma mais natural, o que não significa passiva ou acovardada, que situações negativas e traumáticas podem, e vão, acontecer.
Uma traição em um relacionamento de longa duração, um familiar que o(a) difama perante os demais membros da família, um amigo ou amiga que age de uma forma desonesta, um colega de trabalho que passa a falar mal de você pelas costas no ambiente de trabalho, uma demissão por conta de alguma injustiça ideológica e/ou social. São apenas exemplos, que se acumulam todos os dias, de situações que acontecem por todos os lados. E, quando acontecem, muitas pessoas falam, aos prantos, "jamais esperava por isso de fulano", ou, "nunca imaginei que fulana fosse capaz de fazer tal coisa comigo". Talvez, na imagem que você tinha em sua mente, a pessoa ou as pessoas em questão não fariam algo de ruim, mas elas decidiram mudar, trocaram a imagem, refizeram-na, agiram de uma forma diferente, e você não tem como, conforme mencionado acima, impedir ou prever isso.
São situações confortáveis? É claro que não. Não podemos, de forma alguma, relativizar ou minimizar o sofrimento, falando que é bobagem ou que é desnecessário. São situações que, sem nenhuma dúvida, podem deixar marcas e traumas. No entanto, o que você precisa entender, aquilo que é o principal objetivo por hora, e fico feliz caso você internalize, é que você controla apenas a sua postura, o seu comportamento e as suas atitudes, sem possuir controle sobre os outros e sobre as escolhas deles. Os conhece hoje, de acordo com a imagem que tem em sua mente, mas os desconhece amanhã, pois não sabe como será a 'imagem de amanhã'. Não sabe se a mudança, pela sua visão, "será para melhor" ou "será para pior".
Dito isto, se você fica extremamente rígido(a) à imagem das pessoas que tem em sua cabeça hoje, é provável que sofra muito quando ocorre algum revés, seja pessoal ou profissional, e não consiga realmente esquecer quando sofre algum tipo de dano ou prejuízo. É provável que diga, conforme as pessoas que responderam a minha enquete, "quem bate esquece, quem apanha não". E, ao não esquecer, desejará, mesmo que inconscientemente, mesmo sem admitir, algum tipo de vingança, como se tivesse que "dar uma resposta". Só que o desejo de vingança, ainda que justificado, ainda que você realmente tenha sido a vítima da história, bloqueia totalmente o caminho para outros pensamentos produtivos. É algo que só lhe causa mal.
Por isso é tão fundamental você realmente aprender a perdoar. Muitas pessoas não perdoam por acharem que vão estar comunicando algum tipo de passividade, como se estivessem sendo fracas, sendo alguém que permitirá aos outros ficar prejudicando-as, ofendendo-as, como se fossem inferiores por praticar o ato do perdão. No entanto, isso não tem nenhuma relação com o verdadeiro sentido do perdão. Perdoar não significa voltar a conviver, muito menos que as coisas regressem ao patamar e ao modelo anterior. Perdoar significa aceitar que a pessoa mudou por uma escolha dela, e que, mesmo, em sua visão, tendo "sido para pior", tendo causado algum tipo de mal ou dano à sua vida, tendo originado algum trauma, agora você tem a escolha do que fazer com relação a isso, e, em último caso, a pessoa que se priva da sua convivência, que perde o seu contato, que não tem mais a sua dedicação profissional, com certeza, por mais que você não esteja vendo, está tendo um dano muito maior do que o dano que lhe causou. Tenha certeza disso.
A incapacidade em entender o que é o perdão e de fato praticar o ato de perdoar, está, inclusive, entre as principais causas de câncer e infarto. A base de nosso sistema imunológico são nossos pensamentos e emoções. Por isso, se você reprime um desejo de vingança, se tornando uma pessoa ressentida, amargurada, rancorosa por alguma situação, carregando ódio, raiva, tristeza, está causando um dano a você mesmo(a). E a pergunta que eu deixo a você é: Já não basta o dano original? Você realmente quer se prejudicar em dobro?
Mesmo os problemas 'menores', como dores de cabeça e dores musculares, em muitos casos podem ser evitados caso você cuide da sua saúde mental e aprenda a perdoar, entendendo aquilo que é sua responsabilidade e aquilo que é responsabilidade dos outros. As pessoas mudam, incluindo eu e você, não possuímos controle sobre isso. Mas temos, em qualquer situação, o poder de decidir o que fazer com relação com a isso. Viktor Frankl, psiquiatra criador da logoterapia, disse em certa oportunidade: "tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida".
Problemas, desavenças, conflitos, divergências familiares, surpresas negativas, traições, tudo isso acontece a todo instante. Não é confortável, tampouco significa que você deve desejar ou torcer por isso, muito menos agradecer. Mas o que está realmente ao seu alcance? Mudar o mundo e as pessoas ou mudar a você mesmo(a)? Para isso, você precisa se conhecer, se entender, agir de forma mais madura, consciente e responsável emocionalmente, perdoando, entendendo que isso, no fim das contas, é pelo seu próprio bem, pelo seu próprio bem-estar, pelo fim do seu sofrimento.
'Quem bate esquece, quem apanha não'. Verdade ou mentira? Pura bobagem, conversa pra boi dormir, ditado simplista que elimina a necessidade de observar complexas barreiras emocionais. Se você realmente quer viver uma vida mais feliz, com mais senso de realização, mais sentido, mais crescimento, menos angústias, você precisa 'tocar a vida adiante'!
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