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Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo!

Escuto com relativa frequência, não apenas na clínica e nos atendimentos, mas na conversa entre amigos, familiares e conhecidos, a queixa de que alguma pessoa do seu convívio não possui iniciativa. Frases como "fulano é muito devagar", ou, "fulana é acomodada", são apenas alguns dos exemplos, sempre naquela tentativa de dizer e demonstrar que a pessoa em questão é menos ativa do que deveria.


No entanto, primeiro, o que exatamente define que alguém possa ser considerado proativo? Qual é o conjunto de atitudes e comportamentos que a pessoa deve ter e fazer para não ser considerada uma pessoa parada, vivendo como se estivesse em um estado de marasmo e inação total, ou, como muitas das pessoas que reclamam falam, de modo "despreocupado"?


Bem, você já deve ter ouvido que temos a tendência de projetar sobre o mundo e sobre as pessoas nossas próprias questões, aquilo que verdadeiramente somos e sentimos. A própria Psicanálise inclusive fala que projetamos no outro aquilo que está em nós mesmos. E é exatamente por isso que enxergamos o mundo não da forma como ele é, mas sim da forma como somos.


Sendo assim, sem aqui fazer nenhum tipo de juízo de valor, defendendo algum tipo de comportamento ou atitude, julgando quem está certo ou quem está errado nesse tipo de debate, até porque este nem seria o meu papel, se faz necessário retroceder um pouco na análise, observando pelo viés psicanalítico. A verdade é que, via de regra, ao examinarmos mais a fundo, aquela pessoa que cobra muito dos outros, que reclama, julga e critica com regularidade, cobra, no mínimo, para ser aqui ainda 'legal', 3x mais de si mesmo(a). Talvez, brincadeiras à parte, para esse tipo de pessoa a cadeira de praia tenha sido a pior das invenções da humanidade. É claro que isso não é nem um pouco saudável.


Claro, se a pessoa não se permite errar, não tolera suas próprias falhas, não aprende a conviver com seus defeitos, não aceita que tenha dias ruins, acha que descansar é coisa de vagabundo, acredita que tenha que dar conta do recado e estar em movimento o tempo inteiro, sem aceitar nem mesmo ficar em silêncio, como ela conseguiria suportar ou aceitar tudo isso de alguém "estranho"? Mesmo que esse "estranho" seja alguém da sua intimidade, como marido, esposa, pai, mãe, filho, ou algum amigo muito próximo, é provável que a cobrança, as críticas e o julgamento tomem conta daquela relação, dia após dia. Portanto, perceba, voltando ao que foi dito no início, será realmente que são os outros que não tem iniciativa, ou a pessoa em questão que joga sobre os ombros dos outros uma cobrança que no fundo é sua?


E joga, muitas vezes, de forma totalmente cruel, arbitrária e injusta, pois sequer comunica aos outros quais são suas expectativas e necessidades. Simplesmente cobra porque, de acordo com a sua visão de mundo, aquilo que faz é certo, o 'único certo', e, se alguém não segue aquela cartilha e aquelas diretrizes, consequentemente está falhando e sendo incapaz.


Não que a pessoa não possa se cobrar. Pelo contrário, deve, até porque é sinal de alguém que está disposto(a) a crescer, progredir, evoluir, seja no sentido pessoal ou profissional. Porém, deve se cobrar com relação a si, e não com relação aos outros. Cada pessoa possui não apenas sua própria realidade, mas também suas próprias circunstâncias, o que faz com que cada um tenha a sua própria história e sua própria trajetória.


A pessoa que se cobra em demasia, quase sempre, se torna uma pessoa ansiosa, que vive em estado de tensão, optando por atividades que gerem um prazer imediato, desprezando ideias e iniciativas que possam trazer retorno a médio e longo prazo. E, ao fazer isso, entra em uma espiral descendente, pois, não irá fazer o que precisa ser feito para chegar onde deseja, e irá se cobrar o resultado da mesma forma, como se tivesse feito. É a combinação perfeita para o stress, a tristeza e a dor emocional.


Como sempre costumo dizer, e você já deve ter inclusive lido ou ouvido de outros profissionais, você primeiro precisa se amar, se aceitar da forma como é, para, aí sim, ter a condição de amar e aceitar os outros da forma como são. Quanto mais você se cobra, quanto mais você se exige, menos se aceita, mais você projetará sobre os outros tudo isso, e, como você viu, é provável que os outros não sejam nada do que você fala, você apenas esteja se enxergando de uma forma refletida, como se, ao invés do outro, estivesse enxergando a si mesmo(a), falando consigo.


Freud disse: "Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo". Quando você cobra, critica, reclama e julga em excesso, está falando muito mais de você do que propriamente sobre quem está do outro lado. Dessa forma, por que você se cobra? Por que você não pode descansar? Por que você não se permite errar? De onde vem esse sentimento de culpa que você carrega de forma inconsciente e manifesta no seu comportamento e nas suas ações diárias?


São apenas algumas perguntas que mostram o quão necessário é você olhar para a sua história, buscar essas respostas, ressignificá-las, dar um novo sentido, adquirir mais consciência e conhecimento sobre si. É a melhor maneira de você parar de projetar sobre o mundo os seus próprios defeitos e as suas próprias imperfeições. É a melhor maneira de você se dar conta antes de afastar e perder o convívio das pessoas que você ama.


Critique menos, abrace mais. Julgue e tenha menos rancor, ame e perdoe mais. Valorize mais aquilo que tem, pare de ficar olhando para aquilo que não tem. Comece, claro, por você, se aceitando mais da forma como é, aceitando tanto a sua luz como também, e principalmente, a sua sombra. A relação com os outros será uma simples consequência disso. O seu mundo externo, sempre, será um puro reflexo do seu mundo interno.


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