top of page

Psicanálise, Religião e Reponsabilidade!

Eu realmente acredito na ideia de que não somos apenas um corpo físico, não somos apenas matéria. Nosso corpo físico, de forma aparente e visível, passa por diversas transformações e mutações ao longo da vida, de forma natural. Nascemos na pele perfeita de um bebê, ainda rica em colágeno, passamos pela infância, adolescência, juventude, vida adulta, até atingir o auge da velhice, já com a pele enrugada e castigada pelo desgaste do tempo e da idade em si. Cada uma das fases com o corpo físico correspondente à sua época.


Durante toda essa jornada, a qual podemos chamar de vida, não apenas nossa pele se modifica, mas também nosso próprio aspecto. Temos momentos mais magros, momentos não tão magros, momentos com maior disposição, energia e vitalidade, momentos com menos disposição, energia e vitalidade, e assim por diante. Tudo visível e perceptível aos nossos olhos.


Porém, há algo que, desde o momento em que nascemos, até o fim de nossas vidas, permanece inalterável, permanente, que é nossa alma. O corpo físico cumpre a sua jornada de existência material na terra, quem sabe sessenta, setenta, oitenta, noventa, ou, sendo bastante otimista, cem anos ou mais. No entanto, nossa alma, independente do momento que não estivermos mais aqui, é conduzida à vida eterna. Ela não morre.


O meu intuito com isso não é falar ou defender com veemência alguma linha religiosa. Pouco importa se você é uma pessoa cristã, evangélica, judia, espírita, de alguma outra linha, ou até mesmo se é alguém irreligioso. Meu objetivo, que fique claro, é apenas apresentar a opinião, da qual você tem todo o direito de discordar, que somos não apenas matéria, mas também uma alma. Enxergamos a matéria, enxergamos o físico, o concreto, mas temos também a alma, que é invisível e imperceptível aos olhos humanos.


Por realmente acreditar nisso, considero que é fundamental termos fé. É a fé quem alimenta nossa alma, é o nosso contato com Deus, independente da forma e da maneira que você imaginar a sua existência e de como você busca fazer o seu diálogo com Ele. A fé, pelo menos no meu ponto de vista, é algo necessário, primordial, até mesmo básico.


No entanto, a fé, sempre, isso mesmo, sempre, precisa caminhar ao lado da responsabilidade. Não podemos jamais nos afastar de nossas responsabilidades para buscar socorro e amparo na fé. Por alguma razão, somos abençoados. Por alguma razão, algum motivo que talvez nunca saibamos exatamente qual, fomos escolhidos de forma privilegiada. Apenas um em 300 milhões de espermatozoides consegue fecundar o óvulo na criação de um novo ser humano. E nós somos, eu, você, todos nós, esse espermatozoide vencedor.


E, a partir do momento que fomos abençoados e literalmente 'escolhidos a dedo', a partir do momento que estamos aqui, precisamos ter a capacidade de agir sempre de forma a assumir nossas responsabilidades.


Outro dia, assistindo um programa de televisão, vi o caso de um rapaz jovem, por volta de 50 anos, com 3 filhos entre a infância e adolescência, que estava travando uma luta contra o câncer de pulmão. Ao ser entrevistado, ele pedia à Deus que o ajudasse a sair daquela situação, pois ele era, conforme suas palavras, "muito novo para morrer e não queria deixar os filhos sem pai". No entanto, durante mais de 30 anos da sua vida, fumou de duas a três carteiras de cigarro por dia. Você sabe que cigarro faz mal e é nocivo à saúde, da mesma forma que ele também sabia. Se, ainda assim, você disser de forma insolente que não sabe, no próprio maço há um aviso claro: "O ministério da saúde adverte: fumar causa câncer de pulmão". É uma das poucas drogas que o aviso vem tão visível.


Portanto, a pessoa que opta por fumar sabe dos riscos que está correndo. De quem era a responsabilidade, então, pelo que estava acontecendo? Era mesmo de Deus, 'cara de pau'? É confortável enfrentar um câncer? Com certeza não, e tenho exemplos familiares de superação para falar sobre o assunto. Sei do quão difícil e sofrido é travar esta batalha. Mas, naquele caso, o câncer era um resultado de suas próprias escolhas. Uma criança, quando faz algo que não deve, e no fundo sabe que não deveria ter feito, vai correndo pedir ajuda aos pais ou a quem estiver cuidando-a. Só que uma criança ainda está em processo de amadurecimento, ainda não é capaz de assumir totalmente suas responsabilidades. Agora, um adulto? Um adulto não pode, ou pelo menos não deveria, ter este tipo de comportamento.


A pessoa fumou a vida inteira, abusou da sorte, sabia dos riscos envolvidos, e aí pede a Deus para que a salve de algo que ela própria se colocou? É justo isso? E aí, o pior de tudo, Deus não irá reverter o quadro, pois não é esse o tipo de milagre que Ele opera, e com isso muitos o enxergarão como alguém cruel e injusto, que não é solidário e empático com a sua dor. Mas quem foi realmente cruel e injusto, se não o próprio fumante, se não a própria pessoa que se colocou de forma triste, trágica e melancólica na enfermidade?

Sempre pagaremos o preço pelas nossas escolhas, sejam elas positivas ou negativas. Sendo assim, o que deve ficar claro, portanto, é que temos a obrigação moral de nos tornarmos protagonistas de nosso próprio drama, de assumirmos as responsabilidades pelas escolhas que fazemos em nossas vidas, sem jogar o peso de nossas próprias decisões sobre os ombros de terceiros, incluindo Deus. Isso é um comportamento infantil, e de um adulto não se espera isso. De um adulto esperamos que haja como adulto.


A fé, tão necessária e fundamental, precisa caminhar lado a lado com a responsabilidade. E a responsabilidade, por sua vez, está diretamente relacionada ao necessário processo de autoconhecimento. Por que? Somente o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento.


Você precisa olhar para dentro, olhar para si, olhar para a sua história, se tornar uma pessoa mais consciente, conhecer a fundo seus próprios limites, parar de projetar o seu lixo emocional sobre o mundo, ressignificar a sua história e o seu passado em busca de novas respostas, mais consistentes, de acordo com aquilo que você realmente quer e deseja ser. Toda desordem na sua vida, um relacionamento conflituoso, problemas familiares, atritos no ambiente corporativo, ou o que você mais imaginar, tem uma considerável parcela que é de sua inteira responsabilidade, mas que, enquanto você mantiver o hábito de apontar o dedo para os outros, se enxergando sempre como vítima, e não perceber que é você quem precisa mudar, vão seguir exatamente da mesma forma.


Como eu costumo dizer, se a situação não pode ser mudada, o que acontece em muitas das vezes em nossas vidas, é você quem deve mudar. Mas, para isso, você precisa ser alguém disposto(a) a assumir realmente suas responsabilidades, optando pelo mais significativo e não pelo mais fácil. Assuma suas responsabilidades, esse é o primeiro passo, que vem antes de qualquer coisa. Nem Deus, nem seus pais, nem sua esposa, nem seu marido, nem seus amigos, nem ninguém vai te salvar caso você não faça pelo menos a sua parte!

ree

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


imagem whats.png
bottom of page