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Por que assistir TV atrapalha a sua evolução e o seu amadurecimento?

Eu não sei você, mas eu não tenho o hábito de assistir televisão, pelo menos não com a mesma frequência e constância de outrora. Ainda assisto, claro, em especial programas de esportes em geral e um ou outro que falem de alguma maneira sobre o comportamento humano e os relacionamentos. Porém, a cada dia menos.


Não sou contra as pessoas assistirem, longe de mim. Defendo com unhas e dentes que somos livres para decidirmos aquilo que queremos para nossas vidas. Inclusive, grande parte das relações humanas melhorariam consideravelmente caso se fosse entendido que a pessoa pode ter a opinião, atitude, crença, ideologia que for, mas não é capaz de obrigar alguém a concordar ou a seguir sua linha de pensamento, agir conforme ela pensa, seja pelo argumento que tiver.


Portanto, é claro, se você deseja assistir televisão, que assim o faça. É meu dever, no entanto, não apenas aqui dar a minha opinião, até porque se trata do meu blog, mas falar também do ponto de vista da minha observação clínica como psicanalista, de alguém que atende diariamente inúmeras pessoas e observa certos padrões que se repetem. Vou colocar as informações à sua disposição, agora, quem decide o que faz com elas, como as usa, e é totalmente responsável pela própria escolha, sem nenhuma dúvida, é você.


O primeiro desafio e sugestão que eu faço a você é, na próxima vez que for acompanhar um telejornal, seja na Globo, Band, SBT, CNN, Globo News, não importa o canal, se de televisão aberta ou fechada, tenha ao seu lado papel e caneta. Faça uma tabela, criando um score, identificando quantas notícias apresentadas são positivas e quantas são negativas.


Eu garanto a você, até por já ter feito esse teste, que de 80 a 90% das notícias, muitas vezes até mais, serão majoritariamente negativas. Serão relatos de mortes, assaltos, violência, corrupção, estupros, doença, tragédias, e assim por diante. Muitos podem pensar o seguinte: "mas é a realidade, infelizmente!". Mas calma, antes de eu falar especificamente sobre esse ponto, sobre abordar a "realidade", é preciso retroceder um pouco a conversa.


Você já se deu conta que sempre que acontece um acidente na rua, atropelamento, briga e afins, as pessoas em geral param, de forma bastante curiosa, para investigar o que aconteceu? Formam-se pequenos núcleos e rodinhas de conversas para descobrir o que houve. Por outro lado, você nunca deve ter percebido a mesma curiosidade ao ver uma pessoa ajudando um cego a atravessar a rua. Ninguém interrompe o que está fazendo ou forma pequenos grupos para olhar e admirar atentamente àquela iniciativa. É ou não é assim?


O negativo prende muito mais a nossa atenção, desperta nossa curiosidade. Isso não se trata apenas de uma simples opinião ou 'achômetro', tem origem em nossa formação cerebral, através do cérebro reptiliano, existente desde os nossos antepassados, e que carregamos como herança até hoje. Há, portanto, uma explicação científica e psicológica para isso. A televisão, e seus profissionais, é claro, sabem disso.


Do que depende a televisão para poder sobreviver? As empresas pagam volumosas quantias para patrocinarem e anunciarem seus produtos e serviços, e, para valer a pena, precisam de audiência, precisam da atenção do público. E a probabilidade de ficarmos ligados na programação é muito maior com notícias negativas do que notícias positivas. Portanto, é assim que a roda gira, e eu espero que você tenha entendido o fio da meada.


Talvez isso explique o sucesso de programas como Casos de Família ou o extinto Linha Direta, que eram apenas tragédia, dor, tristeza e sofrimento. Portanto, agora sim, voltando à justificativa que muitas pessoas usam: "mas é a realidade, infelizmente!", será? É essa mesmo a realidade, ou é uma realidade apenas parcial? Você sabia, por exemplo, que todos os dias no Brasil surgem 30 novos milionários? São 360 pessoas por ano, é bastante gente. Eu me impressionei bastante quanto tive acesso a essa informação, e eu tenho quase certeza que você não fazia a menor ideia.


Claro, o que chama mais atenção, o sequestro ou abuso de uma criança ou você saber que nesse exato momento alguém ficou milionário? Não que as notícias sejam inventadas, embora isso tenha se tornado mais comum nos últimos anos, infelizmente. Na maior parte dos casos, sim, elas são verdadeiras. Porém, são parte da realidade, e não o todo. Só que, quando você passa a olhar apenas para uma parcela da verdade, enxergando tudo aquilo que é prioritariamente negativo, perde o ânimo, a disposição, se torna alguém com inclinação ao pessimismo, que está sempre reclamando, em constante estado de medo, tensão e ansiedade.


Isto, mais uma vez, não é uma simples opinião, mas sim fruto do meu trabalho e da minha observação como psicanalista. Constato não apenas quais são os principais hábitos e comportamentos dos pacientes que atendo, mas também das pessoas com quem eles se relacionam regularmente. As pessoas que optam por assistir televisão com regularidade, na grande maioria das vezes, jogam para o seu inconsciente aquelas informações, transformando a exceção em regra, invertendo a lógica natural das coisas.


E o problema, é que, ao ver apenas o lado negativo, a dor, o sofrimento, a tragédia, a pessoa passa a crer, de forma muitas vezes inconsciente, que fique claro, que a vida, em sua totalidade, é desta forma. E não é!


Acontecem, por exemplo, de acordo com o IBGE, 120 mortes violentas por dia no Brasil. É claro que entristece, gostaríamos que não houvesse nenhuma. No entanto, não transforme a exceção em regra. Quantas pessoas saem e retornam às suas casas diariamente? Milhões. Da mesma forma, é claro que acontecem sequestros, assaltos, estupros, violências, de uma forma geral. E ninguém está dizendo para você ser frio e racional perante a situação, mas apenas para entender que é a exceção, e não a regra.


Do ponto de vista psicanalítico, ao jogar para o inconsciente a exceção, e tomá-lo como regra, o resultado é justamente aquele que foi dito acima. Você se transforma em alguém pessimista, sem ânimo, com inclinação a viver reclamando, carregando com os efeitos indesejados da ansiedade e da angústia, e isso traz reflexos para o seu dia a dia, para a forma como encara a vida e se relaciona.


Ninguém está com isso recomendando ou dizendo que você saia a rua de peito aberto, sem tomar as devidas precauções que o mundo em que vivemos nos exigem. No entanto, um pouco mais de otimismo não faz mal a ninguém. Não apenas otimismo, mas, principalmente, conhecimento. E, para isso, talvez seja melhor você parar um pouco de assistir televisão, abastecer o seu subconsciente de forma mais saudável.


Mas como foi falado anteriormente, quem decide o que faz com todas essas informações, e arca com as consequências pelas próprias escolhas, é sempre você!

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