Pet não é filho!
- Ricardo Lobo

- 28 de mar. de 2022
- 5 min de leitura
Sim, é isso mesmo que você acaba de ler no título do texto: pet não é filho! Eu sei que isso pode parecer um tanto quanto polêmico, afinal de contas, "toca na ferida", fazendo muitas pessoas que se consideram pais/mães de pet sentirem-se ofendidas e/ou agredidas de alguma forma. No entanto, o objetivo ao escrever é justamente esse, "tocar na ferida", fazendo com que as pessoas, incluindo você, deem mais valor e atenção ao cuidado de sua saúde mental e emocional, algo ainda hoje, em pleno 2022, tão desprezado e carregado de preconceitos e visões deturpadas.
Quero deixar claro, também, que caso você leia o texto até o final, talvez você siga discordando, assim como pode ser que concorde (isso é algo que você só será capaz de dizer e concluir no final do texto), mas o que eu tenho total certeza e convicção é que pelo menos você irá entender e compreender a mensagem, e não apenas a mensagem, mas tudo o que está no seu entorno, assim como o contexto em que ela está sendo escrita.
Eu, particularmente, amo animais de estimação, de todos os tipos - e esse é mais um ponto para você ler até o final, pois talvez agora esteja pensando que eu sou alguém incoerente ou hipócrita. No entanto, a vida acontece nas relações humanas, acontece nas relações sociais, conjugais, familiares, profissionais e etc. Tudo isso acontece com pessoas, entre pessoas, de carne e osso, de qualidades e defeitos, assim como nós. Não temos filhos com animais de estimação, não casamos com animais de estimação, não somos sobrinhos de animais de estimação, não somos contratados, tampouco contratamos para nossas empresas, animais de estimação. A vida acontece na relação entre humanos, e é na relação entre humanos que temos a maior oportunidade de crescer, evoluir, amadurecer, muitas vezes a partir das dores e das dificuldades, dos momentos em que precisamos recalcular nossa própria rota de vida.
Muitas pessoas já ouviram aquela famosa frase: prefiro os animais, as pessoas sempre nos decepcionam. E, se considerarmos de forma simplista, é claro que ela faz sentido. Você já parou para pensar num detalhe importante? Um cachorro, por exemplo, não está nem aí para saber se você é uma boa pessoa ou não. Se você é uma pessoa fiel ao seu parceiro ou a sua parceira, ou é infiel, para o cachorro é indiferente, ele estará lá feliz da mesma forma. Se você trata as pessoas com respeito e educação ou se trata de forma arrogante e egoísta, tanto faz, ele também estará lá, 'balançando o rabo', da mesma forma. Diferente das pessoas...
Experimente trair o seu parceiro ou a sua parceira, experimente ser alguém egoísta e arrogante, experimente não cumprir com as suas obrigações no trabalho...Em todos os casos, podem haver consequências negativas, concorda?
E aqui, do fundo do coração, sem fazer nenhum tipo de julgamento, de falar aquilo que eu particularmente considero como certo ou errado, talvez sejam justamente essas escolhas que gerem alguma perda na sua vida, alguma consequência negativa, mesmo que momentânea, que façam você modificar algum tipo de comportamento, algum tipo de crença, alguma forma de enxergar o mundo.
É na relação entre pessoas que você precisa conviver com a sua 'pior versão', com aquilo que você gostaria de não ser obrigado(a) a lidar, com o seu lado inconsciente, com o seu lado sombrio - e isso precisa ser trabalhado, analisado, elaborado, não pode jamais ser desprezado, até porque faz parte de você. É na relação entre pessoas que muitas vezes você lida com o seu ciúme que aparece sem pedir licença, com a sua dificuldade em aceitar quem pensa diferente de forma natural, com a sua baixa autoestima, com a sua insegurança, com a sua dificuldade em expressar aquilo que sente e pensa por medo de desagradar ou perder a aceitação dos outros. E é nessa 'dor', causada pela relação entre pessoas, e não com seu pet, que você talvez perceba a necessidade de buscar por algum tipo de suporte (leia-se terapia) para se tornar emocionalmente mais consciente.
Mais do que isso, o que estou falando não é algo que pode se escolher ou não. Não somos, e nem temos como ser, 100% independentes. Muitas pessoas gritam aos quatro cantos, orgulhosos(as), como sinônimo de feminilidade ou macheza, "EU NÃO DEPENDO DE NINGUÉM", mal sabendo que, dependem sim, dependem muito. Dependemos, em maior ou menor nível, dos outros, assim como os outros dependem da gente. E, nesse caminhar, no processo da vida, não convivemos apenas com pessoas boas, com pessoas que sintonizam e se alinham conosco, mas também, e bastante, com pessoas que nos causam algum tipo de dor e desconforto. E, conforme dito antes, é justamente nessa 'dor', sejamos vítimas ou vilões, que temos a oportunidade de crescer, tal qual, de forma análoga, uma pessoa que recebe um diagnóstico ruim quando vai ao médico (é a dor do resultado que muitas vezes faz a pessoa mudar o que é necessário).
Por isso, nada contra, e agora sim você vai entender a mensagem, que você trate seus pets como filhos, faça festa, dê roupa e festa de aniversário, compre berço e carrinho de bebê para eles. Esta é uma escolha sua e ninguém está no direito de julgar ou lhe apontar o dedo para criticar. Caso queira, faça isso. No entanto, jamais faça como uma FUGA. O pai da Psicanálise, Sigmund Freud, eternizou a seguinte frase: "a fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar".
Se você buscar entender a complexidade por trás de tal frase, perceberá que, adaptando ao mundo em que vivemos hoje, 83 anos após a morte de Freud, muitas pessoas fogem das relações, sejam elas sociais, familiares, conjugais e profissionais, justamente pelo medo em ter que mudar e confrontar com tudo aquilo que É SEU e não é confortável de encarar. Fogem, e utilizando-se de tal fuga, dizem: "meu pet me aceita como eu sou". Mas será que, no fim das contas, e agora acredito que você já entendeu a mensagem, isso é algo a ser comemorado?
Portanto, pet pode, caso você queira, ser seu filho (o título era realmente para que você lesse o texto até o final, ok?), mas não evite o seu dever de casa, não fuja da necessidade de buscar, muitas vezes a partir de situações desagradáveis e que causem dor, fazer o devido esforço para se tornar uma pessoa mais consciente emocionalmente, abandonando comportamentos prejudiciais, criando novas rotinas, tornando-se mais luz e menos sombra, mais consciente e menos inconsciente.
Ficou clara a ideia?
Se você compreendeu a mensagem que está no texto, clique aqui. Vai ser um prazer ouvir sua opinião, e, caso queira, será também um prazer agendarmos uma consulta para nos conhecermos melhor e você iniciar o seu processo de terapia.





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