Os segredos para um relacionamento perfeito!
- Ricardo Lobo

- 20 de ago. de 2021
- 3 min de leitura
Dias atrás, atendendo uma paciente, ela me comentou sobre uma frase que havia ouvido de sua psicóloga anterior, a respeito dos relacionamentos e suas fases, que era mais ou menos assim "existe o amor da tua vida, e existe o amor para a tua vida".
Sem aqui fazer qualquer julgamento ou juízo de valor social e moral, ou até mesmo profissional, por se tratar de algo específico e eu não saber em que contexto ou circunstância foi dita a frase, eu, assim como fiz na consulta com minha paciente, discordo totalmente dessa colocação.
Muitas pessoas criam em suas vidas fantasias, ilusões, não apenas para os relacionamentos, mas principalmente. Idealizam histórias de amor como se suas vidas fossem um capítulo de novela da Globo, o enredo de uma comédia romântica, ou mesmo uma fantasia da Disney. Criam a expectativa de um relacionamento onde não aconteçam discordâncias, onde não hajam desavenças e nenhum tipo de conflito. Imaginam um tipo de relação onde o outro precise pensar igual, concordar com tudo e apoiar todas as iniciativas. Sonham, desejam e aspiram pelo "homem ideal" ou pela "mulher ideal". Mas será que isso tudo seria uma possibilidade real?
Você sabe por que os relacionamentos são realmente tão lindos e maravilhosos nos filmes, novelas e romances da Disney? Porque eles duram algumas horas, e não uma vida inteira. Por mais que passem anos ao longo das tramas, para nós são apenas algumas horas, que, pelo tamanho e investimento na produção, parecem reais, mas são, no fim das contas (e não custa lembrar), pura ficção escrita por alguém que coloca ali suas vontades e não o mundo real da forma como ele é.
É colossal a diferença, não apenas para os relacionamentos, mas para tudo em nossas vidas, entre a vida real e a vida das expectativas. Começa pelo fato de um relacionamento ser feito por dois diferentes, e não dois iguais. Dois opostos, cada qual com seu histórico de vida, com seu modo de pensar, com seu modo de agir, com seus traumas, com suas preferências e com suas opiniões. Natural que hajam discordâncias e surjam conflitos. Posso afirmar, mesmo sem conhecê-los pessoalmente, que Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert têm seus conflitos e seus desafios no casamento.
É claro, precisamos também lembrar o óbvio, que se os conflitos, em uma balança com o que há de bom, estiverem pesando mais, não há sentido na continuidade do relacionamento, pelo menos da forma como se apresenta no momento. É necessário ajuste, diálogo, terapia, ou mesmo, em último caso (e não como primeira opção), o término. O problema, no entanto, é acreditar em uma ilusão de "relacionamento perfeito". Ou também imaginar que se acontecem brigas e conflitos é porque "a pessoa não me ama mais", ou "a pessoa não é pra mim".
Por conta dessa busca por algo inalcançável, por essa busca por um relacionamento 100% maravilhoso, global, o tempo todo, cada vez mais pessoas se veem em dúvidas nos relacionamentos em que vivem, ou não conseguem manter um relacionamento por um longo período. A maior prova disso é o recorde no número de divórcios atingido ao longo de 2020, crescendo mais de 50% na comparação com o ano anterior.
O que precisa ficar estabelecido, em um português bem simples, direto e claro, é que sim, se hoje você está em um relacionamento, existirão outras pessoas "melhores" no quesito A, B, C ou D (é como em uma partida de futebol, sempre a solução é quem está no banco de reservas). Assim como existiria alguém "melhor" para você que está lendo, também existiria alguém "melhor" para a pessoa com quem você se relaciona.
Mas vocês fizeram uma escolha, por livre e espontânea vontade, sem que ninguém os forçasse a fazê-la, e cabe a vocês, de forma responsável e madura, honrarem essa escolha. Parar de idealizar e criar expectativas. Honrar essa escolha significa se comprometer, se esforçar, valorizar as qualidades da pessoa com quem você se relaciona, ao mesmo tempo em que se sabe que os defeitos, as fraquezas e as vulnerabilidades existem. Existem no outro e existem também em você.
Atingimos a plenitude emocional quando realmente conseguimos ter maturidade o suficiente para lidar com os desafios e as contrariedades impostas pela vida, inclusive em nossos relacionamentos. Precisamos abrir mão dessa busca pela perfeição, como se isso fosse algo possível. Sempre vai estar "faltando algo", pois assim são os relacionamentos, assim é a vida. Nunca será 100% da forma como idealizamos.
Afinal de contas, voltando ao tema central, como exigir que alguém seja perfeito quando nós somos seres imperfeitos? (Daí a importância tamanha de trabalhar o seu autoconhecimento, as suas questões, a mudança está em você, é interna e não externa).
O "amor da tua vida" pode, e deve, portanto, ser o "amor para tua vida".





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