Nao julgueis!
- Ricardo Lobo

- 6 de jun. de 2022
- 3 min de leitura
"Ter cachorro é um atraso de vida, é só para se incomodar". Essa foi a frase que ouvi dias atrás quando saí para almoçar em um shopping e me chamou bastante atenção, deixando-me bastante reflexivo sobre o que fora dito. Talvez não seja nem necessário explicar, mas, como não custa reforçar, claramente uma pessoa criticando outra que decidiu adotar um novo integrante pet para seu lar. Sabe o que mais me chamou atenção na situação, justamente o motivo que está me fazendo publicar este texto no momento?
Por um lado, eu consigo contextualizar a fala para que ela faça algum sentido. É claro que ter um animal de estimação, de qualquer espécie, dá trabalho. Imagine o cachorro, por exemplo, já que a pessoa se referiu a este tipo. Tem que levar para passear, levar ao veterinário, cuidar as vacinas, alimentar, limpar, educar, pensar em alternativas na hora de viajar ou se ausentar por um período mais prolongado, em que seja inviável levá-lo junto, e daí por diante. É fácil tudo isso? Claro que não! É desafiador e exige bastante da(s) pessoa(s) envolvida(s).
Quem decide ter um cachorro sabe - pelo menos deveria saber - que está assumindo um compromisso de médio prazo, de 10 até 20 anos. Não é um brinquedo ou algo descartável, que cansa, enjoa, e joga fora. Muito provavelmente a pessoa que fez tal comentário não tinha nenhum animal de estimação, e achava que, para ela, seria um incômodo muito grande ter que abrir mão de si e de seus interesses para em muitos momentos atender as demandas de um cachorro. Por isso que, mesmo não concordando e nem compactuando com a forma que a fala foi dita e colocada, consigo buscar o que há por trás de tal afirmação.
Porém, por outro lado, e é aqui que detenho mais a minha atenção, e gostaria que você detivesse a sua, já reparou como somos especialistas em saber aquilo que é melhor para os outros? Sabemos se nossos amigos devem permanecer em determinado relacionamento, sabemos o que as pessoas devem fazer diante das dificuldades, sabemos se as pessoas devem ou não ter animais de estimação, mas somos falhos em nossa própria vida, muitas vezes ficando totalmente perdidos e sem rumo. Não falo isso como crítica, até porque, como diz o ditado, errar é humano, então é humanamente impossível termos uma vida apenas de acertos e glórias. É claro que teremos nossas falhas e nossos insucessos, capazes de nos gerar frustração, angústia, desânimo e ansiedade.
O problema não está em errar ou falhar, até porque, repetindo, isso é da natureza humana. O problema está em não desejar aprender e evoluir com isso, mesmo que de forma lenta e gradual. É claro que é muito mais fácil falar aquilo que é melhor para os outros, afinal de contas, se der certo, ótimo, ganhamos os louros e o reconhecimento pelo "bom conselho", e, se der errado, não somos nós quem temos de conviver com as consequências de tal decisão ou atitude. É muito mais simples, não é mesmo?
Porém, primeiro ponto, recorrendo aqui ao pai da Psicanálise, Sigmund Freud, em sua obra O Mal-Estar na Civilização, de 1930: "cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz", ou seja, cada um sabe aquilo que é melhor ou pior, bom ou mau, para a sua própria vida. Se a pessoa irá ter 10 animais de estimação ou nenhum, se a pessoa irá optar pelo serviço público ou pela iniciativa privada, se a pessoa vai ser carnívora ou vegana, e daí por diante, são escolhas individuais, que, quando feitas, não são esperando por nossa aprovação ou reprovação. A própria Bíblia possui uma passagem onde fala "não julgueis para que não sejais julgados". O julgamento, via de regra, fala muito mais sobre quem somos, como pensamos e imaginamos o mundo, do que sobre o fato em si.
Segundo ponto, ao invés de desperdiçar sua energia tecendo críticas, formulando opiniões sobre a vida alheia, ou criticando, utilize esse importante recurso a seu favor, compreendendo o que você pode, e deve, fazer para melhorar 1% a cada dia. Todos nós temos falhas, e, na mesma proporção, em uma lógica inversamente proporcional, oportunidades de crescimento. Podemos, diariamente, melhorar em nosso trabalho, em nosso relacionamento amoroso, em nossa relação familiar, no nosso próprio autocuidado e etc.
Quanto mais erramos, e lembre-se que o erro é humano, mais oportunidades estamos recebendo para tentar corrigir o rumo e acertar. Para isso, no entanto, é necessário olhar mais para dentro, assumindo a responsabilidade e atingindo a maturidade dentro da própria vida, ao invés de ficar olhando para fora, se transformando em uma pessoa inconveniente em uma mesa de restaurante no shopping.

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