Jamais faça Crossfit!
- Ricardo Lobo

- 14 de mar. de 2022
- 5 min de leitura
Crossfit é algo que está na moda. É uma febre entre pessoas de todas as idades. O Brasil é atualmente o segundo país no mundo com o maior número de boxes de Crossfit. Virou tarefa quase impossível sair por aí e não enxergar alguém praticando a modalidade.
Você já fez, ou faz, Crossfit? Ou pelo menos já viu alguém fazendo, tem algum(a) amigo(a)/conhecido(a) que pratica? Para pelo menos uma das duas perguntas tenho quase certeza que a resposta será um SIM bem grande. Muitos já cansam só de enxergar uma pessoa sair correndo por aí com um peso nas costas, carregando uma roda de caminhão, aquelas bolas pesadas ou anilhas ultra pesadas. Não deve ser uma tarefa fácil mesmo. É algo que exige treino, compromisso, disciplina, preparo.
Acima de tudo, é algo que, quem pratica a modalidade, se prepara para fazer ao longo de 50, 60 minutos. Não é algo que a pessoa pratique por 24 horas por dia, 7 dias por semana, domingos e feriados, dias úteis e não úteis.
Mas por que diabos estou falando sobre Crossfit? Qual a relação disso com a Psicanálise? Qual a ligação entre isso e o seu estado anímico, o seu bem-estar emocional? Está se fazendo essas perguntas? Se sim, agora você vai entender.
A Psicanálise é uma escola de teoria que acredita e defende veementemente a ideia de que vamos nos moldando de acordo com os ambientes que frequentamos, as pessoas com quem convivemos, os exemplos que observamos e etc. Isso acontece não apenas em nossa infância, quando ainda estamos criando a nossa própria noção de moral, de certo e errado, sendo mais vulneráveis a tudo que nos rodeia, mas também ao longo de nossa vida adulta.
Muitas vezes isso ocorre de forma consciente, outras tantas de modo totalmente inconsciente. Mas é fato que, voluntária ou involuntariamente, isso ocorre, e sempre ocorrerá, em qualquer fase de nossa vida. Prova disso é que, ao sairmos da nossa zona de conforto, ao convivermos com algum tipo de exemplo diferente, ao conhecermos uma história de superação que foge da "nossa bolha", ou até mesmo uma história triste, ao conversarmos com alguém alheio à nossa realidade, passamos a perceber, de forma nítida, que o mundo é muito maior do que imaginamos ser.
Então, agora sim, qual é a relação exata disso tudo com o Crossfit? Bem, será que, sem se dar conta, ou pelo menos sem parar para pensar sobre, você não está carregando um peso enorme em sua vida, 24 horas por dia, 7 dias por semana, como se estivesse fazendo Crossfit ininterruptamente? E será que esse peso não está fazendo você se sentir uma pessoa mais cansada, irritada, ansiosa, tensa, triste e preocupada?
Por "peso enorme", entenda estar em ambientes que não lhe acrescentam nada, buscar referências em histórias que talvez não sejam a melhor opção para você, e, principalmente, estar se relacionando, seja mais intimamente ou socialmente, com pessoas que não acrescem absolutamente nada em sua vida, e que, justamente por isso, acabam lhe puxando para baixo.
Com certeza você já deve ter saído de uma conversa com alguém sentindo-se bem, animado(a), entusiasmado(a), otimista, com ânimo em vencer e superar os desafios da vida. Por outro lado, é bem provável que já tenha saído de uma conversa com alguém, "outro alguém", obviamente, e saído triste, apreensivo(a), irritado(a), preocupado(a), até mesmo se sentindo com dor de cabeça. Já não aconteceu isso com você? Se você disser que não, é um ponto fora da curva, porque 99,9% das pessoas se identificam com a situação.
Essa escolha, de quem você vai colocar em sua vida, dos ambientes que irá frequentar, dos exemplos em que irá se inspirar, em última instância, é sempre SUA. Por que você vai ficar ao lado de alguém que não agrega para a sua vida, que faz você se sentir mal? Se, por exemplo, você é alguém que busca tratar as suas questões mais sombrias e profundas, busca assumir sua responsabilidade perante a vida, busca crescer e evoluir pessoal e emocionalmente, se tornar mais consciente, investe tempo e energia em uma terapia, ficar ao lado de alguém que não faz nada disso é como querer caminhar com um saco de cimento nas costas - você até vai para a frente, mas a muito custo e esforço, tanto físico quanto mental.
É claro que determinadas decisões não são fáceis, exigem grandes mudanças, exigem uma ruptura. Existem ambientes e pessoas que em determinado momento de sua vida foram importantes, mas que, atualmente, pelo destino da vida, pelo caminho que você decidiu trilhar, foram em direções opostas à sua, opostas aquilo que você valoriza, almeja e deseja.
Ficar, apenas por ficar, quase como um ato de teimosia, com uma falsa expectativa de que será possível modificar o outro, é apenas assinar um contrato com a angústia e o sofrimento, sofrendo de uma ansiedade sem precedentes. E sair disso não é, de modo algum, agir de maneira egoísta. Muito pelo contrário, é agir amparado pelo senso de amor próprio, algo tão presente no discurso mas cada vez mais ausente na prática.
Talvez você até tenha alguns desses contratos assinados e em pleno vigor na sua vida, se sentindo frustrado(a), carregado(a), ansioso(a), mas quer a boa notícia? Eles não tem nenhuma cláusula de perpetuidade, e o distrato depende apenas de você, das suas escolhas, da sua própria iniciativa.
É um trabalho mínimo, "de formiguinha", como se diz no ditado popular. Às vezes, retirar uma pessoa de nossa vida, deixá-la ir, deixar de frequentar determinado ambiente, significa abrir caminho para que o novo, mais alinhado com nossa verdadeira essência, se aproxime e possa nos surpreender. Significa abrir mão do controle, entender que o desprazer da ausência pode ser momentâneo, mas que a escolha, feita de forma lúcida e consciente, permitirá que o mundo se encarregue do restante e seja capaz de proporcionar um prazer muito maior no futuro.
O problema é quando você toma todas essas decisões e faz tais escolhas amparado(a) no medo de desagradar, com carência, insegurança, medo da rejeição, preso à sua criança ferida, com baixa autoestima, preso(a) às suas próprias questões inconscientes. Por isso, é preciso que você esteja bem consigo mesmo(a), bem por dentro, para que faça escolhas mais conscientes e que lhe proporcionem maior bem-estar e satisfação. Não há milagre nisso, é um processo que realmente se trilha e se conduz a partir do próprio autoconhecimento, que se vence etapa após etapa, dando um passo de cada vez.
Essa mudança, mínima em alguns casos, é capaz de proporcionar grandes resultados e transformar uma vida por completo. Por isso, é claro que o título deste texto se trata de uma brincadeira (o óbvio precisa ser dito). Crossfit é um esporte capaz de proporcionar à você saúde, bem-estar, e até de possibilitar conhecer pessoas e ambientes novos, por que não?
Mas a mensagem que fica através dessa analogia é: cuide de você, cuide da sua saúde mental, busque o seu bem-estar emocional, se torne emocionalmente mais consciente. E faça, a partir disso, estando bem por dentro, as escolhas que realmente irão acrescentar em sua vida, naquilo que você deseja.
E se você se identificou com a mensagem e quer investir seu tempo e sua energia, iniciar um processo de terapia, buscar ingressar neste lindo caminho de autoconhecimento, clique aqui e vamos conversar com mais calma para ver de que forma posso ajudar você!
Jamais faça Crossfit (24 horas por dia)!





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