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Faça o teste: você tem mais de Hitler ou de Stalin?

Talvez dizer que vivemos atualmente em um Brasil extremamente polarizado seja repetir algo que você escute com bastante frequência, pelo menos, desde as eleições presidenciais de 2018 entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Por mais que a polarização sempre tenha existido, foi naquele período, com debates e discussões acaloradas, algumas cenas tristes em praça pública, que se percebeu com clareza estarmos em um país com dois lados em guerra.


Parafraseando Nelson Rodrigues, que disse, segundo consta nos arquivos da história, "toda unanimidade é burra", podemos dizer que "todo radicalismo é burro". A pessoa radical, via de regra, salvo raríssimas exceções, quer exterminar, eliminar o outro lado, mas não se dá conta que a sua existência, da forma como é e com a força que tem, depende da existência do outro lado. E isso não apenas na esfera política, mas na vida como um todo, em qualquer cenário e ambiente. Quer ver como?


Não sei se você gosta e acompanha futebol ou não, mas eu adoro e torço ferrenhamente pelo Grêmio de Porto Alegre. E o que seria do Grêmio se não fosse a existência do Inter? Que me perdoem os demais times, cada um com a sua devida grandeza, mas a vitória do Grêmio em 2015 por 5 a 0 não teria tido a mesma repercussão e o mesmo peso se não fosse contra o maior rival. É algo que se comenta até hoje, gerou camisetas comemorativas vendidas ainda em 2021, torcedores, inclusive um radialista conhecido do RS, tatuaram homenagens a essa partida. Se fosse contra o Palmeiras (como realmente aconteceu na década de 90, o mesmo placar), não se falaria tanto. Isso que, contra o Palmeiras, valeu vaga em uma semifinal no maior torneio continental da América. Por outro lado, contra o Inter em 2015 valeram apenas 3 pontos.


Fato é: o Grêmio não seria do tamanho e da grandeza que é, se, ao longo de sua história, não houvesse um rival do tamanho do Sport Club Internacional. Por isso, é "burrice", leia-se radicalismo, extremismo, quando um torcedor do Grêmio ou do Inter deseja que o outro se dê tão mal a ponto de acabar e ser destruído. Da mesma forma que não é inteligente quando alguém fala, no contexto político, em "eliminar a direita" ou "eliminar a esquerda".


O extremismo, a polarização, sobre qualquer cenário, político, esportivo, religioso, sexual, é burra. As coisas só evoluem ao longo da história da humanidade, por sinal, pela existência do "outro lado", aquela voz dissonante. Se apenas repetíssemos o passado, sem a capacidade de questionar e melhorar o mundo com regras, normas, combinados sociais e diretrizes mais claras, empáticas, justas, sugeridas justamente por quem se opõe, o planeta seria chato e a vida talvez não teria tanto sentido, seria "quadrada".


Portanto, voltando ao cerne da questão: um lado precisa do outro. Situação precisa da oposição. Oposição precisa da situação. Direita precisa da esquerda. Esquerda precisa da direita. Flamengo precisa do Vasco. Vasco precisa do Flamengo. Grêmio precisa do Inter. Inter precisa do Grêmio, e assim sucessivamente...


Você, por consequência do que foi escrito até aqui, consegue imaginar o real motivo de vivermos em um país extremamente polarizado? Posso afirmar, por estudar o comportamento e a mente humana, atender diversas pessoas em busca de melhora a partir do autoconhecimento, com real conhecimento de causa, sem falsa modéstia, que a razão, muito provavelmente, não é a que você pensou, algo em um sentido ideológico/filosófico.


Antes de qualquer coisa, algo precisa ficar muito claro e didático para que você compreenda todo o raciocínio: nosso comportamento do ponto de vista social e coletivo é apenas uma extensão do nosso comportamento individual, em grupos menores, com familiares, amigos e cônjuges. Por isso, o que vou escrever agora aplica-se de forma universal: por trás da polarização, está uma necessidade humana cada vez maior em controlar, em impor o seu modo de agir e pensar, considerando (e desprezando) quem se opõe como inimigo mortal número 1.


Por trás da polarização, existe uma necessidade cada vez maior das pessoas de que as coisas sejam "do meu jeito". É assim nas famílias, é assim nos relacionamentos, é assim nas amizades, e, por óbvio, isso se reflete em esferas maiores e coletivas como a política. Você tem todo o direito de ter suas crenças, opiniões, ideologias, falar o que pensa, da mesma forma que tem o dever de respeitar o que vier do outro lado, cada qual sendo responsável pelas suas escolhas. Direitos e deveres, a vida é feito disso, nem só de um e nem só de outro.


Talvez você diga coisas, em uma tentativa de racionalizar, ao defender suas posições, como "mas é uma questão de bom senso", ou ainda, "é pelo bem de todo mundo", mas se for mais a fundo na história e lembrar da origem do nazismo de Hitler ou do comunismo de Stalin, recordará que muitas das ações eram justificadas pelo "bem de todos". Hitler, por exemplo, dizia que deveriam se exterminar os negros e as pessoas portadoras de síndrome de Down por eles serem um 'problema para a sociedade'. E, pasmem, inicialmente as pessoas assistiam aos discursos em praça pública batendo palmas, incentivando, realmente comprando e aprovando aquela ideia.


No entanto, o resto é história e talvez o Nazismo e o Comunismo sejam dois dos capítulos mais tristes da história da humanidade. Portanto, entenda que você não tem o poder de impor absolutamente nada a ninguém, tanto no seu namoro, casamento, na sua família, com seus amigos, ou em termos de sociedade. Da mesma forma que talvez você tenha os seus motivos para suas ações e para pensar o que pensa, existem motivos distintos do outro lado. Ambos válidos, legítimos, sem 'certo e errado', sem polarização. É preciso aprender (ou reaprender) a conviver com as diferenças. É preciso praticar a tal da empatia, tão comentada nas redes sociais mas pouco levada em conta no mundo real.


Seu único direito é o de expor o que pensa e sente, e seu único poder é o que você irá fazer com tudo isso. Você se abre e deixa o outro livre para seguir o seu caminho, para fazer a sua escolha, sem totalitarismo, sem controle, sem manipulação. Em meio a isso, define o seu limite, se posiciona, estabelece o que aceita e não aceita, até onde permite ou não permite. Perceba como estamos falando sempre de você mesmo(a)! Tudo começa e termina em você, daí a importância, mais uma vez, do autoconhecimento.


Talvez você imagine que caso as coisas fossem do "seu jeito" o mundo seria um lugar melhor, porque você faz o que é melhor "não apenas para si, mas para todos". Mas eu garanto, agradeça enquanto houverem contrariedades e divergências, pois é isso, sem nenhuma dúvida, que permite a você se desenvolver e evoluir, conseguir olhar por outros ângulos e outros pontos de vista.


Você, assim como eu, precisamos de outros pontos de vista.


Abra mão do controle, aprenda a ser contrariado(a), rejeitado(a), respeite o livre-arbítrio. Com certeza não é legal ser apelidado(a) de Hitler ou Stalin.

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