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De quem é a culpa?

A culpa é de.....


Já reparou como sempre, para qualquer situação que imaginarmos em nossas vidas, seja em nossa vida pessoal, social ou profissional, muitas pessoas, quando as coisas não saem conforme o planejado, em desacordo com as suas expectativas, ou mesmo quando dão errado, tendem a buscar um culpado, um vilão?


O casamento terminou, a mulher fala que foi por culpa do comportamento e das atitudes do antigo parceiro. Se for o inverso, a dinâmica se repete, com o homem falando que a culpa foi da antiga parceira. Se existe um filho, e o filho não dorme no horário previsto, foi culpa do pai que o tirou da rotina e agitou demais. Se está muito sensível, chorando mais que o habitual, logo culpa-se a mãe por "mimá-lo demais". Sempre, para tudo, incluindo qualquer outra situação que você imaginar, há um culpado. Não apenas o marido, a esposa, mas também os pais, os amigos, a própria família, os colegas de trabalho, os chefes, até o governo ou a economia.


Ao fazer isso, ao agir desta forma, opta-se pelo caminho mais fácil, cômodo e confortável, pois, à medida que se identifica um culpado, a pessoa "sai na frente" e se isenta de toda e qualquer responsabilidade.


Apesar da tentativa social cada vez maior de simplificação das coisas, com as pessoas se recusando e perdendo o interesse em pensar, optando por exemplo por uma rede social como o Tik Tok, em que os conteúdos não passam de 60 segundos, tendo o hábito de ler cada vez menos, buscando sempre por caminhos mais curtos, as relações humanas não são tão simples assim. Pelo contrário, estão fundamentadas e constituídas em uma pluralidade de fatores, e não por algo como se fosse "olho por olho, dente por dente".


As coisas não podem ser reduzidas a uma simplicidade ingênua, que, dependendo do contexto, pode ser burra ou até mesmo criminosa. Observe comigo o seguinte exemplo: imagine um homem jovem, culto, bem empregado, que decide, todos os dias, ao sair do seu trabalho, ir beber uma cervejinha e fazer um happy hour com aquele pessoal boêmio. No bar que decide frequentar, conhece um grupo de pessoas, e, certo dia, uma dessas pessoas vai até sua casa para seguirem a comemoração de forma mais particular. Eis que, por ter bebido muito, pega no sono, e, quando acorda, se dá conta que aquela pessoa furtou toda a sua casa, levando dinheiro, celular, eletrônicos e tudo mais.


É claro que é um fato desagradável e ninguém deve apoiar a desgraça, simpatizar com a criminalidade, ou falar algo mais ou menos como "mereceu". No entanto, essa pessoa fez algumas escolhas, e, ao fazê-las, ao frequentar um determinado tipo de ambiente, com um determinado grupo de pessoas, ao decidir ingerir bebida alcóolica em excesso, sem autocontrole, se colocou, por sua própria vontade, e não pela decisão ou imposição de ninguém, em uma situação de maior risco e vulnerabilidade.


Ela não é culpada pelo crime que a outra pessoa cometeu aproveitando-se de sua condição fragilizada por conta da bebida, tampouco "mereceu", conforme falamos acima. Não é que uma coisa conduza à outra, como se fosse algo extremamente simplificado. Mas, nesse caso, ele precisa entender que, sim, mesmo diante de algo extremamente desagradável, tem uma parcela considerável de responsabilidade. Passado o trauma e o susto, ele manterá os mesmos hábitos e comportamentos? Seguirá frequentando os mesmos lugares? Ou, apenas como exemplo, quem sabe não sairá do trabalho e passará a cuidar mais de si e da sua saúde, praticando alguma atividade física?


É o mesmo quando acontece um episódio de traição conjugal. É claro que a traição machuca, deixa marcas, causa sofrimento. Porém, a medida que for sendo assimilada, é preciso entender que a traição, da forma mais tradicional como conhecemos, é apenas a ponta do iceberg. Contar as intimidades do casal para os amigos ou para as amigas também é uma traição. Conversar de forma escondida, mesmo que "sem maldade", também é uma traição. Colocar os filhos como prioridade total e esquecer totalmente do casamento também é uma traição. Ser adulto e expor o relacionamento para a família, desabafando para os pais, irmãos e demais parentes, também é uma traição. São várias as formas de traição, e não apenas a mais conhecida popularmente.


É claro que, voltando, nada justifica, e eu espero que você consiga ler e ter o mínimo de serenidade e maturidade para entender isso. Não podemos, mais uma vez, simplificar, na política do "bateu, levou", como se uma coisa levasse à outra. É uma complexidade e multiplicidade de fatores. A pessoa que foi traída, contudo, a medida que for assimilando sua dor, precisa entender qual foi a sua responsabilidade, de que forma contribuiu para que o relacionamento estivesse tão ruim e enfraquecido a ponto de a pessoa do outro lado decidir cometer um ato tão cruel como o ato de trair.


Buscar essa reflexão não significa que ela precise permanecer junto com o(a) traidor(a), como um casal. Somente a própria pessoa é que é capaz de sentir e definir se vale a pena a continuidade da relação ou não. Porém, sem esse trabalho de assumir sua responsabilidade, colocando toda a culpa sobre quem se foi, mesmo que não permaneça como casal, é provável que, mais tarde, viva exatamente os mesmos problemas em uma futura relação com uma outra pessoa. Torcida? Não, apenas a realidade, do ponto de vista psicológico, como ela é na prática e não de forma fictícia.


Tudo isso que estamos falando vale também no contexto profissional. Estamos atravessando um período de crise em todo o mundo, não apenas sanitária, mas também política, fiscal e econômica. Nesse cenário, muitas empresas, em especial micro e pequenas, fecharam as suas portas. Embora, por um lado, o alto índice de fechamento de empresas possa sim ser um resultado que reflete o momento, por outro é passível de uma análise mais profunda e cautelosa.


Ao conversar com diversos micro e pequeno empreendedores, é comum, e sei disso por ter realizado esse experimento, escutar coisas como "a culpa é do Governo", "a culpa é essa inflação que deixa tudo mais caro", "a culpa é do Governador", "a culpa é do Bolsonaro", "a culpa é da pandemia". Porém, como falei, por mais que, sim, cada um desses elementos citados possam apresentar suas peculiaridades e ter sua devida contribuição, até que ponto a pessoa que fechou seu pequeno negócio entende de marketing digital, e sabe conquistar mais clientes usando o poder da Internet, por exemplo? Até que ponto a pessoa está familiarizada com as táticas mais modernas e eficazes de venda? Até que ponto a pessoa está realmente disposta a trabalhar e abandonar o vício das redes sociais, que não agregam em praticamente nada para a sua vida? Até que ponto a pessoa está disponível para abrir mão do seu lazer de final de semana em nome da salvação de seu negócio?


Percebe como, mesmo diante do insucesso, mesmo que seja perseguida ou vítima das circunstâncias ou do ambiente, a pessoa tem sempre uma considerável parcela de responsabilidade? Não significa que fazer tudo isso signifique o êxito do negócio, assim como não significa que cultivar e nutrir o relacionamento utilizando técnicas de amor dos mais modernos manuais impeça uma eventual traição, ou fazer uma atividade física ao sair do trabalho inviabilize uma possibilidade de furto.


Porém, não se assume responsabilidade para buscar a estabilidade. Estabilidade não existe. Não há esse contrato com o destino, com a certeza, com a segurança. Ainda assim, mesmo fazendo tudo o que foi sugerido, seguem existindo fatores e elementos externos que fogem do alcance imediato, da zona de controle, e, portanto, seguem havendo chances de situações traumáticas ou negativas.


A questão é: se assume responsabilidades para, acima de tudo, ter a consciência limpa, tranquila, a sensação de ter feito tudo aquilo que realmente era necessário e podia ser feito para aquela ocasião, e que, mesmo em caso de insucesso, a doação foi máxima, e, portanto, o sentimento que fica é o de gratidão e aprendizagem e não o de culpa, mágoa, raiva ou arrependimento.


Mas e por que, retornando ao ponto inicial, pouquíssimas pessoas são capazes fazer tudo isso e assumir responsabilidade perante à vida? Porque significa reconhecer aquilo de negativo que é seu. Significa sair do conto de fadas imaginário e descer ao mundo real. Significa ser humilde a ponto de reconhecer suas próprias incoerências, contradições, carências, ambivalências, entendendo que, na vida, cada um possui sua devida responsabilidade.


Albert Einsten tem uma brilhante citação: "nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou." Assumir a responsabilidade é ter a capacidade de confrontar aquilo que é seu, entender de que forma conteúdos que fogem à sua compreensão, inconscientes na maior parte das vezes, interferem no seu modo de agir, pensar e se relacionar com o mundo. É entender que tudo é difícil. Mudar é difícil, sair da zona de conforto é difícil, mas não mudar, manter-se colocando a culpa nos outros, sofrendo com as consequências negativas de sua omissão e covardia, também é difícil.


Aí, nesse caso, é você que faz a escolha, e já começa por aí a assumir a responsabilidade por ela. Qual é o difícil que você quer para a sua vida?


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