Como a psicanálise explica o ciúme? (E MUITAS OUTRAS QUESTÕES...)
- Ricardo Lobo

- 16 de mai. de 2022
- 4 min de leitura
Sabe aquele ciúme doentio, abusivo, tóxico, que passa do ponto? Aquele tipo de situação onde a mulher, por exemplo, não permite ou não tolera que seu parceiro converse ou então adicione colegas de trabalho em uma rede social, ou então o parceiro não permitindo à sua companheira que vista determinado tipo de roupa, cobrando que envie a sua localização em tempo real para provar onde está? Existe uma resposta psicanalítica para o tema, e, mais do que isso, a explicação serve não apenas para o ciúme, mas para diversas outras questões, indicando, inclusive, porque toda e qualquer pessoa deveria investir em si e direcionar seu tempo e a sua energia para um trabalho terapêutico, buscando, do ponto de vista emocional, tornar-se mais consciente.
Tornar-se emocionalmente mais consciente! É aqui justamente a base de tudo. Do ponto de vista psíquico, todos nós, independente de gênero ou condição social, temos a mesma constituição, possuímos um lado consciente e outro inconsciente. Nosso inconsciente que, a fim de simplificar, imagine que seja a parte do iceberg que você não enxerga, é repleto de memórias, vivências, experiências e pensamentos que, na imensa maioria das vezes, são desconfortáveis de admitir e enfrentar.
No caso do ciúme, respondendo a pergunta feita no começo do texto, na realidade é a própria pessoa ciumenta que é incapaz de lidar com seus pensamentos e desejos de infidelidade, e, ao negar isso dentro de si, projeta isso para o outro na forma de um comportamento ciumento. Quanto maior for essa negação, consequentemente, maior será o nível do ciúme. A dinâmica, portanto, é essa: primeiro, a negação, a fuga daquilo que não é confortável, para, mais tarde, como mecanismo de defesa, na tentativa de desfazer-se deste peso, projetar de alguma forma, através de algum tipo de comportamento.
Perceba que não estamos falando aqui, em nenhum momento, sobre caráter. O que você precisa entender, no entanto, é que não é o fato de você estar em um relacionamento que transforma as demais pessoas em tipos pelas quais você não sentirá o mínimo de atração ou desejo. Você pode estar vivendo o relacionamento dos seus sonhos, mas, ainda assim, seguirão existindo outras pessoas atraentes. Sentir atração ou desejo não é o problema, o que você faz com o seu desejo e com a sua atração é que pode, aí sim, se converter em um problema. Mas o maior dos problemas, com o perdão de estar escrevendo a palavra pela terceira vez em um curto espaço de tempo, é que se você ficar brigando com seus pensamentos, tentando, de modo forçado, dizer que não os têm, sentindo culpa por tê-los, acabará, em algum momento, projetando isso para fora de alguma forma, a fim de "expulsá-los".
Como dito no título deste texto, essa engrenagem serve não apenas para explicar o ciúme, mas praticamente tudo, qualquer tipo de comportamento. Quando uma pessoa, por exemplo, sente dificuldades em lidar com as próprias falhas, não aceita sua própria vulnerabilidade, enxerga o erro com um peso enorme, convivendo sempre com um excesso de culpa (na maioria das vezes inconsciente), é bem provável que se torne alguém especialista em reclamar, cobrar dos outros ou achar que as coisas nunca são boas o suficiente. Ou seja, mais uma vez ela tenta negar, fugir daquilo que é seu, não admitindo, de forma alguma, que ela pode ser uma pessoa falha, e, como consequência, projeta isso para fora de alguma maneira, não aceitando, nesse caso, as falhas dos outros.
Foram apenas dois exemplos, mas para você entender que podemos fugir de tudo, menos de nós mesmos. O principal objetivo do trabalho psicanalítico é justamente trazer para a consciência todo esse conteúdo inconsciente, que é individual e exclusivo de cada um de nós, necessitando sempre uma investigação personalizada. Dessa forma, ao de fato se autoconhecer, é possível que, com esforço, comprometimento, disciplina, determinação e resiliência, você mude comportamentos, hábitos, crenças e pensamentos, visando, justamente, uma vida emocionalmente mais equilibrada, melhorando sua relação, não apenas com você, mas com o mundo e com as pessoas à sua volta.
Sem esse processo, conforme você percebeu através dos exemplos, terá diversos comportamentos, por influência do seu inconsciente, que, embora em muitos casos você diga, como uma mentira a si, que são virtuosos, falando, por exemplo, coisas como "tenho ciúme porque amo", ou "me preocupo e reclamo porque gosto", na verdade serão extremamente prejudiciais não apenas aos outros, mas também, e principalmente, a você.
Dada a explicação, deixo a pergunta: será mesmo que terapia é só para "quem precisa", ou todos nós deveríamos buscar e investir em um processo terapêutico? Carl Jung, contemporâneo de Freud, certa feita disse o seguinte: "Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida, e você vai chama-lo de destino".
Você já sabe a resposta para a pergunta acima, eu sei que você já sabe. Mas saber apenas não é o suficiente. Está disposta(o) a transformar esse conhecimento em ação? Se sim, e quiser contar com o suporte do meu trabalho para isso, entendendo melhor como funciona, clique aqui.





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