Aceitar a realidade!
- Ricardo Lobo

- 24 de jan. de 2022
- 5 min de leitura
Talvez você já tenha visto algo assim, ou quem sabe até vivenciado algum exemplo parecido na sua família ou com alguma pessoa muito próxima: aquela pessoa que, ao chegar em uma idade mais avançada, não aceita que já não é mais viável realizar as mesmas atividades, com a mesma intensidade, que fazia algumas décadas atrás. Isso acontece principalmente com aquelas pessoas que são extremamente ativas e que possuem dificuldades em relaxar e "não fazer nada".
Como um dia disse o cantor Cazuza, o tempo não para. O tempo passa, para todo mundo, e passa, aparentemente, de forma cada vez mais rápida. Dentro de circunstâncias normais, a "idade chega", e é claro que uma pessoa de 60 ou 70 anos já não possui mais a mesma vitalidade física de alguém com 30 ou 40 anos. É evidente que a pessoa pode se cuidar, manter uma rotina saudável, se manter em atividade, mas os limites impostos pela idade sempre aparecem com o tempo. É algo até natural de falar, mas extremamente complexo de se entender - e aceitar.
Não são um nem dois, mas vários os casos de pessoas com idade mais avançada que não aceitam sua nova realidade, não reconhecem suas limitações, os limites do tempo, e ainda se veem como pessoas jovens. Na prática, isso resulta em pessoas que se recusam a pedir ajuda, muitas vezes sofrendo diversos tipos de acidente doméstico, em algumas ocasiões até graves.
Mas por que exatamente eu estou falando tudo isso se a maior parte das pessoas que me acompanha ainda está distante da terceira idade? Porque, dado o exemplo, apenas para contextualizar, o que precisa ficar claro, e, nesse caso, a dinâmica se repete, é que aceitar a realidade, da forma como ela é, é um dos primeiros passos, e mais difíceis, para a manutenção da saúde mental e do equilíbrio emocional.
Observo muito, seja nos atendimentos ou mesmo em nossa sociedade, que diversas pessoas brigam ferozmente com suas realidades. Eu, por exemplo, tenho um filho, atualmente com dois anos de idade. Ele faz parte da minha realidade, do meu cotidiano, da minha vida. Ir à praia há quatro anos era de uma forma, atualmente é de outra. Se antes eu conseguia sentar em uma cadeira de praia, com calma, de forma despretensiosa, para me bronzear, conversar, hoje em dia, nas circunstâncias atuais, isso não é mais possível. Agora, ao invés de sentar em uma cadeira de praia, as idas à praia são quase como uma atividade física, porque é preciso correr com ele, brincar, montar castelinho de areia, jogar futebol, levar para tomar banho de mar, e assim por diante. O banho de sol acontece por tabela, mas não da forma tradicional e calma como era em outros tempos.
Essa é a minha realidade, a realidade de quem tem a responsabilidade de criar e educar um filho. E não é assim apenas para mim, como se eu fosse injustiçado ou perseguido pela vida, como se fosse diferente dos outros, é assim para todos os pais e mães que tem o mesmo compromisso.
Pais e mãe que em muitos momentos falam, por vezes até mesmo reclamando, que não conseguem ter tempo para si para assistir a uma série, ver um filme, descansar, lamento, mas essa é a realidade de quem tem filhos pequenos. Manter a casa organizada, algo por muitas vezes simples, já se torna mais complicado para quem tem pequenos por casa. Não adianta idealizar algo, criar um mundo imaginário, como era no passado, ou comparando com outras realidades, sendo que a sua realidade do presente é totalmente diferente, praticamente uma guinada de 180 graus quando comparada a outrora.
Crianças exigem, crianças tomam tempo, crianças "restringem" a liberdade. Isto é a responsabilidade de ter filhos, a responsabilidade de formar uma vida e educar um cidadão para o mundo, com princípios, valores, ética, integridade e honestidade. Crianças, também, é claro, choram. Essa é a forma de uma criança comunicar ao mundo suas insatisfações, suas vontades, seus sentimentos. A criança não sabe comunicar através do diálogo e da conversa, por isso ela chora, 'faz parte do pacote'. Querer que uma criança não chore é o mesmo que querer ter um cachorro que não lata, é totalmente inviável. Portanto, vão existir os momentos desafiadores de choro em ambiente coletivo, as birras e manhas, como aquelas famosas no supermercado ou no shopping.
Por isso, é preciso aceitar a realidade, da forma como ela é. Citei exemplos aleatórios, como o avanço da idade e também a paternidade/maternidade, mas, como dito acima, a dinâmica, para qualquer situação da vida, sempre se repete. Ao não aceitar a realidade, ao ficar idealizando uma situação, ao ficar comparando com outras pessoas, seja um sua vida amorosa, pessoal, familiar, social ou profissional, os sintomas aparecem, tornando a pessoa mais ansiosa, angustiada, preocupada, triste a apreensiva.
E, apenas um parêntese, mas quando falo "aceitar a realidade", não significa, de forma alguma, ter passividade ou não ter iniciativa. No caso dos filhos, por exemplo, se um pai ou uma mãe desejam um pouco mais de tempo para si, ou quem sabe até para o casal, a pergunta que devem se fazer é: o que eu/nós preciso/precisamos MUDAR para CRIAR uma nova oportunidade? O que precisa/precisamos MUDAR em mim/nós?
Mudança, essa é a palavra chave. Se você enxerga sua realidade, e não gosta daquilo que vê, você é quem precisa mudar algo para transformar a sua realidade e criar novas oportunidades. A realidade muda apenas se você mudar, e não por golpe de sorte ou por qualquer outra razão externa. Mude por dentro, queira mudar por dentro, e a realidade mudará por fora.
Voltando ao caso dos filhos, mais uma vez, supondo que um pai ou uma mãe desejem mais tempo para praticar uma atividade física. Talvez isso signifique passar menos tempo com os filhos, já que, não precisa nem ser pai ou mãe para saber, levar uma criança para dentro de uma academia e pedir que ela não mexa em nada não é uma tarefa das mais simples. E aí, nesse caso, é preciso abrir mão não só do tempo, mas do sentimento de culpa pela possível ausência. Por isso a importância de mudar, de olhar para dentro, para o lado emocional.
Ainda na mesma situação, pare para refletir, o que realmente importa para uma criança: é a quantidade de tempo ou a qualidade do tempo? Sem nenhuma dúvida, o melhor presente, o mais caro, de maior valor, que você pode dar aos seus filhos é um pai ou uma mãe saudáveis. Por isso, e só por isso, independente de ter filhos ou não, cuidar da sua saúde e praticar alguma atividade física já deveria entrar agora na sua lista de prioridades.
Ainda assim, caso não seja possível, não exista uma alternativa, um caminho de se mudar a realidade, aceite. Nesse caso, 'aceita que dói menos'. Enfim, não brigue com a sua realidade, seja estratégico(a). Ao brigar, querendo que as coisas mudem por decreto, por sorte, pelo acaso, pelo destino, é você quem sofre as consequências, se tornando uma pessoa mais emocionalmente carregada, com tendências a reclamar e se vitimizar. Você pode mudar algo em você para criar novas oportunidades dentro da sua realidade, isso sim está ao seu alcance. Ou, caso não possa, ou não queira fazer tal esforço, simplesmente aceitá-la.
É como eu sempre falo: quando você muda por dentro, a vida muda por fora! Você está disposto(a) a mudar, ou vai ficar apenas brigando com os fatos sem fazer qualquer tipo de esforço, repetindo sempre os mesmos lamentos e murmúrios? A escolha é sempre sua!
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