A melhor forma de ajudar!
- Ricardo Lobo

- 13 de jun. de 2022
- 5 min de leitura
É claro que não gostamos de ver ninguém, ainda mais se for alguém de nosso círculo mais íntimo, sofrendo por alguma razão ou passando por algum tipo de dificuldade. Não desejamos ver nossos pais, filhos, maridos, esposas, namorados, namoradas, amigos e amigas enfrentando um período turbulento em suas vidas. Por conta disso, muitas vezes nos preocupamos e buscamos fazer de tudo o que estiver ao nosso alcance para aliviar a angústia dessas pessoas nos desafios impostos pela vida, sejam eles justos ou injustos.
Logicamente que, olhando de forma superficial, podemos afirmar que isso é uma demonstração genuína de amor, de afeto, uma preocupação carregada de empatia. No entanto, a pergunta que precisamos nos fazer, analisando o contexto de forma mais ampla, é: até que ponto querer ajudar os outros é realmente efetivo em suas vidas, e, mais do que isso, saudável? Além disso, o que tal postura pode realmente estar sinalizando? Já adianto que a resposta para a segunda pergunta, que irei expor ao final deste pequeno texto, seja talvez a que mais importa e, ao mesmo tempo, surpreenda.
Não precisamos olhar a vida por radicalismos, pela lógica do "oito ou oitenta". Com isso, espero que você entenda que minha intenção ao abordar este assunto não é definir a você aquilo que é certo ou errado e orientar que você siga algum tipo de cartilha. Meu objetivo é, e sempre será, que você seja capaz de ser fiel aos seus sentimentos, fazendo aquilo que realmente é significativo e valoroso para você. Porém, busco apenas a reflexão, do ponto de vista psicológico e comportamental, de uma forma maximizada, trazendo à discussão alguns pontos que, muito provavelmente, podem ser considerados "pontos cegos". Você vai entender agora!
Suponha que você conviva com alguém que acabou de terminar o relacionamento, e que, por conta deste término, está se sentindo muito mal, sofrendo. Natural, não é mesmo? Afinal de contas, independente do motivo, até mesmo se tiver sido algo que partiu da própria pessoa, é de se esperar que se adaptar a uma nova fase, abrir mão da rotina antiga, do convívio, não apenas com o antigo ou com a antiga parceira, mas também com suas famílias, gere algum tipo de desconforto. Esse sofrimento não é por acaso. Nossa mente faz de tudo, tanto de forma consciente como inconsciente, para que não enfrentemos a dor e o desprazer, e é por conta disso, por exemplo, que somos tão resistentes às mudanças, pois não sabemos o que delas esperar.
Ao ver a pessoa sofrendo, você faz de tudo o que está ao seu alcance para "reanimá-la". Oferece sua cia, a convida para sair e relaxar um pouco, inclui ela em suas programações, organiza algum tipo de viagem ou passeio, e daí por diante. Eu lhe pergunto: vale a pena, é eficaz e efetivo tudo isso? A resposta é, ao mesmo tempo, sim e não. O 'sim' talvez seja mais imediato, pois, ao menos nos momentos em que estiver com você, a pessoa "esquecerá", ou amenizará, os efeitos da angústia em sua vida. No entanto, o 'não' é mais forte e duradouro, sabe por que? Porque, de certa forma, a pessoa não olhará para si, para o seu próprio martírio, buscando analisar o que será necessário mudar a partir de agora, seja em termos de comportamentos, ou mesmo pensamentos, justamente para não passar por situações semelhantes no futuro.
Em outras palavras, não gostamos de ver as pessoas sofrendo ou encarando algum tipo de dificuldade em suas vidas, mas é justamente a dificuldade que, caso a pessoa saiba vê-la como uma "professora", fará com que essa pessoa possa progredir, amadurecer, evoluir e se desenvolver em alguma esfera, seja ela qual for. Por conta disso, mesmo que não percebamos, muitas e muitas vezes, quando fazemos de tudo para ajudar alguém, no fim das contas, estamos mais prejudicando (ou impedindo a evolução) do que de fato ajudando.
Significa que você precisa ser uma pessoa alheia a tudo e indiferente a vida e aos sentimentos dos outros? Com certeza NÃO! Como dito anteriormente, não existe uma definição daquilo que seja certo e errado, uma cartilha para ser seguida. É nobre querer ajudar os outros, porém, ao fazer isso, certifique-se de que a pessoa que você está oferecendo seu apoio está de fato comprometida em olhar para a própria dor e aprender com ela, para que não ande em círculos e seja capaz de assumir suas próprias responsabilidades. Caso contrário, até mesmo em um nível inconsciente, muitas pessoas pensam da seguinte forma: "eu sei que se errar ou estiver sofrendo, posso contar com fulano(a)", e essa 'certeza' converte-se em uma importante barreira, que faz muitas vezes a pessoa ficar estagnada.
Além disso, tenha clareza do motivo pelo qual você está ajudando. Você lembra da segunda pergunta, colocada no início deste texto: "o que tal postura pode realmente estar sinalizando?". Por que, em geral, gostamos tanto de ajudar, agradar aos outros, mostrar nosso valor e nossa preocupação? Muitas vezes, e, como dito anteriormente, a resposta pode surpreender, a ajuda não é pelos outros, mas sim por nós mesmos. É claro que isso não será fácil de admitir, pelo menos a um nível consciente de percepção. Iremos sempre falar, discursar, que estamos preocupados com os outros, que sequer estamos pensando em nosso próprio benefício.
No entanto, ao ajudarmos alguém, mostrarmos nosso carinho e demonstrarmos nosso apoio, o que acontece? Recebemos, em troca, uma massagem em nosso ego, o que faz aumentar nossa própria autoestima e também a percepção de valor pessoal. Faz sentirmo-nos importantes, valorosos. Problema disso? Quando não somos capazes de enxergar nosso próprio valor, sentimo-nos inferiores, carregamos sentimento de culpa, temos um medo gigante da rejeição, ou temos uma forte sensação de incapacidade, precisamos de alguma forma preencher esse vazio, e como o fazemos? Ajudando, agradando, mostrando preocupação, correndo atrás de problemas e desafios, mesmo que dos outros. Percebe que tal postura pode ser, dependendo do caso, uma fuga?
É mais fácil, realmente, agir dessa forma, afinal de contas, acabamos fugindo de nós mesmos, de nossa própria história, não encarando o verdadeiro problema. É muito mais cômodo ajudar os outros do que ajudar a si mesmo(a). Por conta disso, vemos muitos exemplos de pessoas que possuem uma necessidade imensa em agradar, um medo enorme em desagradar e expressar seus pontos de vista, e são extremamente preocupadas com a vida dos outros, vendo isso como sinônimo de uma grande virtude. Pessoas querendo solucionar importantes questões, até mesmo sociais, mas que acabam sendo negligentes com a própria vida, nos mínimos aspectos.
Até porque, voltando ao princípio que nos rege, o chamado princípio do prazer, nossa mente faz de tudo, tanto a nível consciente quanto inconsciente, para nos manter em uma posição de conforto. O conforto, nesse caso, é olhar para fora, para a vida dos outros ou para os problemas externos. O desconforto, olhar para dentro, buscando analisar e entender de onde, de qual parte da história, vem esses medos, essa necessidade imensa em agradar, essa fraca autoestima, esse sentimento de culpa, esse complexo de rejeição. Esse é um trabalho que exige compromisso, e que, com certeza, não é fácil.
Não se resolve de forma simples, rápida, em um passe de mágica, apesar das falsas promessas estarem dominando a internet e as redes sociais hoje em dia. Mas se resolve, e a psicanálise é extremamente efetiva nesse sentido. A melhor forma de ajudar é, portanto, ajudar a si mesmo(a), antes de querer ajudar os outros.
Fez sentido para você este texto? Você se identifica com esses tópicos? Sente que tem dificuldades de autoestima, medo da rejeição, sente-se incapaz, possui muitas vezes um complexo de inferioridade, carrega uma culpa muito grande? Se a resposta é sim para qualquer um destes questionamentos, faça algo por você. Clique aqui e conheça melhor meu trabalho e a abordagem da psicanálise.





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