A era da Alta Performance!
- Ricardo Lobo

- 3 de set. de 2021
- 4 min de leitura
Vivemos na era da chamada "alta performance", ou "máxima performance", dependendo de como você preferir. Coachs, gurus, mentores, ex atletas, escritores, e até mesmo alguns psicólogos e psicanalistas (por que não?) falando a todo instante coisas como "você deve ser tudo aquilo que você pode ser", sempre superar as suas expectativas.
Muito por conta disso, de forma implícita, e também explícita, romantizamos, e mudamos o significado, de produtividade. Livros falando sobre o magnífico "poder" de acordar as 5h da manhã, especialistas em marketing digital afirmando que você precisa estar disponível e online o tempo todo, o Whatsapp e as demais redes sociais substituindo (se é que já não substituíram) a clássica ligação, sempre com a expectativa de que a resposta para a mensagem enviada/recebida seja imediata - esperar não é uma opção.
Não precisa ser um especialista no assunto ou trabalhar na área da saúde para presumir essas como umas das principais causas de hoje sermos primeiro lugar no mundo em número de pessoas ansiosas, e que, paralelamente, convivem em um relacionamento sério com a culpa. Atualmente, apenas para você ter ideia, pesquisas recentes afirmam que 9 entre cada 10 brasileiros estão com um nível de ansiedade acima do considerado normal e aceitável. 90%!
Não que o que seja dito ou escrito nos livros não tenha sentido, mas a pergunta que fica é: faz sentido para você?
Com a proximidade do verão, por exemplo, é natural que a procura por academias, centros de treinamento funcional, estúdios de CrossFit e etc., aumentem consideravelmente, afinal de contas, é preciso ter o "shape" para o mês mais quente do ano.
No entanto, se você tem um objetivo fundamentado em algo superficial, como o fato de ter um "shape PARA o verão" é provável que a sua dedicação, assim como a sua resiliência, sejam fracas, pois o significado daquilo não é forte o suficiente. É provável, inclusive, que caso tivéssemos 12 meses de frio, você levantaria as mãos para o céu e agradeceria, pois não precisaria estar fazendo aquele esforço. Afinal de contas, pensando de forma bem simples, você quer um "shape para o verão" e não um "shape para você". É quase como uma obrigação ou um fardo!
O que isso significa? Você está, no exemplo acima, fazendo apenas pelo resultado. E isso, saindo do contexto de atividade física, é o que mais observamos. Pessoas entrando em algo e assumindo compromissos porque querem TER algo. Querem TER o corpo perfeito, querem TER um salário maior, querem TER o carro do ano, querer TER um cargo público, querer TER uma promoção, querem TER um melhor relacionamento, e assim por diante. Visando o resultado final, o ponto de chegada.
Porém, se o engajamento e o comprometimento está direcionado para o resultado, visando o fim, é provável que o erro ao longo do processo seja visto como um fracasso, seja o suficiente para gerar uma desmotivação, a ponto de abandonar a ideia inicial. Por outro lado, se você realmente se engaja naquela atividade por perceber a sua importância, entender o seu significado, o resultado é apenas uma consequência, com o prazer estando ao longo do processo.
Parece simples, mas é brutal a diferença colocada acima. Na segunda hipótese, que é a ideal, você também erra, afinal de contas, ao longo de uma caminhada, seja ela de estudos, atividade física, ou qualquer outra coisa, é natural que ocorram altos e baixos, é natural que você não esteja todos os dias com a mesma energia, vitalidade e disposição. Estabilidade e linearidade, mais do que nunca, não existem. Porém, você não está pensando apenas no resultado, mas passou a ter amor e entendeu o real significado do processo. Sendo assim, o erro é visto não mais como fracasso, gerando culpa, mas sim como oportunidade, gerando motivação.
Você deve estar se perguntando: mas o que isso tudo tem a ver com a "alta performance"? De modo bem simples, você é livre para fazer aquilo que quiser, para acordar no horário que quiser, para ficar online e disponível nas redes sociais o quanto quiser. O que precisa ficar claro é que você deve buscar aquilo que faz sentido para você, e não para os outros. Quando você faz as coisas que gostaria de não fazer, justamente para atender ao "chamado social", é provável que se torne uma pessoa ansiosa, ressentida, angustiada e irritadiça, além de estar, o tempo todo, ou quase, convivendo com um inexplicável sentimento de culpa, de estar falhando, de estar devendo algo.
Por isso, antes de "ser tudo o que puder", se comprometa naquilo que você realmente consegue, mas assumindo responsabilidades de verdade, parando de se colocar como vítima. Se você não conseguir correr 5 Km, fazer CrossFit, responder no Whatsapp de forma instantânea, e acordar as 5h da manhã, tudo bem, mas apenas trabalhe, quando estiver no trabalho, em vez de parecer que está trabalhando. Trabalhe e pare de apontar o dedo para seus pares como se você fosse a única pessoa realmente boa e séria do recinto. Se comprometa de verdade com isso!
Independente de você estar hoje no que socialmente se convenciona como "alta performance" ou "mínima performance" (se é que esse termo existe), defina o melhor alvo, o melhor objetivo que você puder imaginar hoje, e caminhe, lute, em direção a ele. Erros acontecerão, pois, como foi dito acima, acontecem com todos e a todo instante. Mas você definiu com clareza o que realmente é significativo para você, então observe seus erros, tenha humildade de assumi-los e corrija-os.
Se você tiver inicialmente UM OBJETIVO, que seja trabalhar melhor, fazer uma atividade física, parar de beber, ou quem sabe até limpar o seu quarto de forma decente (são muitas as pessoas que não arrumam nem a própria cama), tudo bem, é o que você consegue no momento. Com o tempo outros objetivos surgirão. Só não tente fazer tudo ao mesmo tempo, ainda mais pela pressão externa. Talvez um dia você faça parte do grupo social considerado de "alta performance" (se fizer sentido para você, vale a pena). Mas assuma a responsabilidade por esse "UM OBJETIVO" e faça, aí sim, tudo aquilo que você realmente pode fazer. Dê o seu máximo!
Para tudo isso, se conheça, desperte a si, e defina, tenha clareza daquilo que realmente faz sentido e é significativo para você, e não para os outros.





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